segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Tagarelar ancestral

Dizer o não-dito: tal é o projecto da escrita. A meia-distância entre dizer e não dizer há o cliché, que enuncia, apesar da usura, uma parte da realidade. O bebé entrega-me a uma forma de amizade com os lugares-comuns; torna-me curiosa a seu respeito, faz com que eu os levante como se fossem pedras para ver, por baixo deles, o correr das verdades.
Escuto o rumor do hospital, as puericultoras, as outras mães, a minha própria educação, as frases das revistas ilustradas, o ruído de fundo da psicologia: a minha fibra maternal. Aquilo a que chamam o instinto, feito de ditados e de provérbios, de testemunhos e de conselhos: um tagarelar ancestral.

Marie Darrieussecq, “Le Bébé

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