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Queridíssimos leitores, por favor ignorem este post, pois ele é dirigido única e exclusivamente a um filho da puta (pardon my french) que, quando eu escrevi
este post sobre a amamentação, teve o desplante de dizer que "
não tinha gostado de o ler". Sua Excelência, imagine-se, tinha ficado incomodado, porque, segundo Sua Excelência, que é um homem pouco sensível e nada sensato, considera que as dificuldades, as dores, os sofrimentos relacionados com a maternidade são tudo exageros da parte de mulheres mimadas, que não devem falar nem partilhar essas coisas.
Pois aqui vai um texto muito bom, que achei que muitos desses filhos da puta que por aí andam deviam ler e ter exactamente a mesma experiência e dificuldades de ter um filho, para verem quanto custa. Um texto da
Dora, via
Pólo Norte que também está grávida:
"(...) desisti de amamentar - a decisão foi considerada sensata pela pediatra da minha filha e pelo meu obstetra. E por mim e pelo pai da minha filha.
Eu explico porque desisti de tentar - porque dormia uma hora de cada vez, tendo que alimentar a minha bebé de 3 em 3 horas até ela alcançar o peso com que devia ter nascido, o que aconteceu por volta dos 2 meses e meio, 3 meses. Dia e noite, de 3 em 3 horas, com o pai a ajudar imenso, mas o pai tinha que trabalhar e, como trabalhador por conta própria, não teve licença de paternidade. Eu estava de rastos, dorida, com todos os movimentos a custar horrores na minha barriga agrafada, com as mamas quase a rebentar de inflamação, com as emoções desenfreadas e com o cérebro afectado pela privação de sono.
Por isso, quando ouvia alguém - sempre muito bem intencionado - a achar que tinha que me convencer a amamentar a minha filha, essa pessoa parecia-me amplificadamente insuportável.
Eu cheguei a um ponto em que emergi desse pântano e decidi o seguinte: eu tinha tido uma bebé e passava mais tempo preocupada com não conseguir amamentar do que em usufruir desse tempo mágico, imenso, deslumbrante, pleno, maravilhoso e irrepetível que é ter um bebé. E eu escolhi arrumar a infernal bomba do leite, munir-me do melhor leite para prematuros que havia na farmácia e começar a disfrutar da minha bebé, que crescia muito bem e saudável.
Só partilho esta história íntima para mandar para o caralho aquela gente que, volta e meia, decide debater a questão da amamentação e até quando as mães devem amamentar para serem mães como deve ser - quando mesmo as mães que amamentam até tarde se recusam a emitir juízos de valor e, como muito bem disse a Adelaide de Sousa, que amamenta o filho de 2 anos e meio, cada um sabe de si e todos os filhos adoram as mães, com ou sem mamas. A Time lançou o rastilho e a Visão também pegou nele. Advirá isto do preconceito ainda muito vincado de que as mulheres, as pobres, nunca sabem tomar decisões e por isso é que há sempre estes debates sobre as mamas das mulheres e o uso que lhes devem dar.
E o que me surpreende é que se fala do assunto presumindo que todas as mães têm leite durante seis anos e só não amamentam os filhos, as grandes cabras, porque são más pessoas. Das dores, das mastites, da dificuldade em conseguir começar a dar leite, disso ninguém fala (...)"