terça-feira, 30 de abril de 2013

National Geographic

Tal como num documentário sobre a vida animal (mas sem aquele simpático voz off da SIC aos domingos ao final da manhã), quando começa a época do bom tempo, eu costumo observar atentamente os comportamentos sazonais dos meus amigos do Bloco. As migrações de Verão. Eis chegada a estação do ano em que eles começam a planear as suas férias.
Todos os anos (muito antes do José Luís Peixoto ter começado a torná-lo destino turístico da moda) recomendo-lhes o idílico destino de Pyong Yang, esse belo e último reduto de paz e felicidade na Terra. Estranhamente, também todos os anos, os meus amigos daquela espécie ignoram abertamente a minha excelente sugestão, e vão-se auto-flagelar para esse nojo imperialista que é Nova Iorque, essa babilónia consumista que é Londres, ou, imagine-se, para o esgoto capitalista dos resorts caribenhos, esses pardieiros com condições infra-humanas que ferem a susceptibilidade de certas ideologias.  (The horror, the horror, como dizia o Marlon Brando no Apocalypse Now.)
Mas peço-lhes sempre que tirem muitas fotos.

Saiba todo o mundo foi nenem

Saiba todo o mundo foi nenem/ Einstein, Freud e Platão também, como naquela música do Arnaldo Antunes, cantada pela Calcanhotto. Esta criança, pezinhos descalços e sujos de terra, sorriso alegre, nascida em Corfu, filha de pai grego, e fotografada sob o sol inclemente da sua Grécia natal, atravessou um século inteiro, várias guerras, um exílio, um trágico acidente de avião, e uma mudança de país, de nome e de nacionalidade. É hoje o perfeito gentleman britânico, impecável e inevitavelmente sarcástico.  Que por acaso também é o marido da Rainha.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Prioridades

Na Alemanha (soube disto recentemente) o governo dá um subsídio às pessoas que têm cães. Está-se sempre a falar que os alemães já não estão com muita vontade de sustentar a dívida dos gregos (esses malandros preguiçosos, que ainda por cima gostam é de gatos a dormir indolentemente nos parapeitos das janelas). Mas, reparem, os alemães estão dispostos a contribuir com os seus impostos para que haja apoio financeiro a quem tem os bicharocos canídeos. É bonito ver um povo que sabe, claramente, estabelecer as suas prioridades. Se um dia se tem de escolher entre os gregos (ou outro povo preguiçoso qualquer) e os nossos amigos de quatro patas, para o pragmatismo teutónico não haverá qualquer margem de dúvida.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Easy virtue sisterhood

Poder de encaixe. O que é preciso é ter poder de encaixe. Esse é o verdadeiro desafio da Humanidade em geral. E da anatomia feminina em particular.

[post reeditado]

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Eficácia comprovada

Em minha casa não há crianças. Mas, de vez em quando, há paredes brancas com nódoas difíceis.

Sunday morning


Immanuel Kant, escreveu um dia (decerto na sua querida Königsberg natal, o cavalheiro parece que nunca saía de lá e as pessoas podiam acertar o relógio pelas vezes que ele passava a caminho da universidade), qualquer coisa como "Acima de mim, o céu estrelado. Em mim, a lei moral". Isto é bonito. Parece que até lhe ficou inscrito na lápide. E eu admiro muito a força estóica da moral kantiana, governada pelo seu inexorável imperativo categórico. Admiro, a sério que admiro. Ela fazia-me falta aos domingos de manhã.

[post reeditado]

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Quando nos toca a nós

Comentava-se a reportagem da SIC, a comparação entre os políticos portugueses e os dinamarqueses. Sorria-se com os paralelismos e as diferenças. Criticava-se muito os gastos dos nossos, elogiava-se as frugalidades deles.
Até que alguém disse que o exemplo começava de cima. Correctíssimo, aprovação geral, mais sorrisos e anedotas.
Mas alguém continuou, dizendo que o exemplo pode partir de cima, mas também tem de ser praticado por todos nós, que o país não são os políticos, não são os outros: o país somos nós. Algumas concordâncias, mas já menos efusivas.
Até que alguém deu um exemplo concreto. Os ministros podem abdicar de motoristas, seguranças, frotas de carros de topo de gama. Mas também há quem possa deixar, tão simplesmente, de fazer telefonemas pessoais nos telefones de organismos públicos, durante o horário de expediente. Se as facturas telefónicas viessem todas detalhadas e se começasse a cortar aí, seriam, com certeza, milhares de euros que se popupava.
Silêncio um pouco embaraçoso. O desconforto pairou ainda durante algum tempo. Depois, dissipou-se. Começou-se a falar de futebol. Os sorrisos e as anedotas voltaram.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ontem foi 17 de Abril


Coimbra, 17 de Abril de 1969

(Lembro-me sempre, ainda que às vezes me esqueça.)

Piropos no trânsito

Conduzindo à noite numa rua íngreme e estreita, a subir, encontro um lugar apertado entre dois carros, paralelos ao passeio. Abrando, encosto, faço pisca e marcha-atrás. Completo a manobra de uma vez só, de forma rápida e simples, como é hábito.
Atrás, vem um carro com quatro rapazes. Passam pelo meu carro, abrandam, um deles abre o vidro, sorri-me e exclama: "Per-fei-to!". E a seguir arrancam, muito satisfeitos.
Ora, qual pernas, qual rabo, qual quê. Isto, sim, homens do meu país, é um elogio bonito e gratificante.

True

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Martin e Hannah

O filósofo alemão Martin Heidegger e uma escritora judia, a apátrida Hannah Arendt, partilharam muito mais do que a intelectualidade de pós-guerra: o sentimento improvável que uniu estes dois durante décadas atravessou um oceano e a ferocidade da ideologia nazi.

[post reeditado]

Damn you, common sense

Miracle on 34th street, de George Seaton (1947).

terça-feira, 16 de abril de 2013

I take it back

Ok, retiro tudo o que disse sobre o Verão.
(Esqueci-me que eu e ele nem sempre somos os melhores amigos. Como diria a nossa juventude, ele tem-me feito aí umas cenas.)

Wedding day in Troldhaugen

Digo-vos, Edvard Grieg deve ter composto aquela peçazinha para piano,Wedding day in Troldhaugen (muito engraçadinha e alegrezinha, por sinal), porque devia ter, coitado, a mesma sina que eu. Em viagem, tropeço amiúde em casamentos, ou na sessão de fotografias dos noivos, ou no copo d'água, ou tropeço na própria cauda do vestido da feliz nubente, sei lá eu.
Uma pessoa está no Malecón, em Havana, e lá aparece o carro com a noiva em cima do capot. (Que linda. Se caiu para trás e foi atropelada, no trajecto, desconheço.)
Uma pessoa está a dar uma volta pela Radhuspladsen em Copenhaga e, guess what, uma mancha branca à direita na foto denuncia mais uma que uniu para sempre o seu destino a um ser que, provavelmente, nunca irá baixar o tampo da sanita.
E uma pessoa anda pelas ruas antigas de Lausanne e, meninas solteiras a esperança é sempre a última a morrer: até esta senhora de 97 anos se casou. (Com um gay que usa casaca vermelha, mas, ainda assim, casou-se.)
Uma pessoa está à beira do mar no Golfo do México, e lá irrompe a Marcha Nupcial de Mendelssohn pelo areal fora. Combina sempre tão bem com sons de merengue e espreguiçadeiras cheias de turistas não convidados.

Por fim (e tirando aquela vez em que vi dois (dois!) casais de noivos a embarcarem em gôndolas no Grand Canale, em Veneza), uma pessoa anda a passear por Genebra e o repuxo do Lago deve ter abençoado os recém-casados mais ternos que já vi.
(Parecia um casamento por procuração ou para obtenção de visto, mas, enfim, destes gostei.)

O vestido

Haverá lá coisa mais uplifting que comprar um vestido novo de Verão. Mesmo que saibamos que ele só verá a luz do dia daqui a três meses. Quem não valoriza os pequenos prazeres da vida, não está vivo nem está nada.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Já podes vir


Já podes vir, Verão. Vem sem medo. Anda lá.

Fifties

Gosto muito de toda a estética dos anos 50. Mas não é por isso que digo que este miúdo tem cara de anos 50. É que tem mesmo. Porém, na realidade tem só 7 primaveras e é capaz de um dia vir a ser rei do reino da Dinamarca. E no entanto, poderia sair directamente de um anúncio publicitário americano de 1957.
Ora vejam bem se ele não podia vender estátuas. De leões. Enfim, vender estátuas de leões esquisitas, e assim. Hum. (Coitado. Os fretes que esta gente tem de fazer, logo desde pequeninos.)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

The ultimate precarity

São sempre interessantes, nas recentes manifestações de rua ou em reportagens na televisão, as declarações dos casais jovens que reclamam porque não têm autonomia financeira nem estabilidade para saírem de casa dos pais e viverem juntos, para se casarem, para terem filhos.


Estas pessoas têm absoluta e plena legitimidade para protestar, para se sentirem insatisfeitos, para se sentirem defraudados nas suas expectativas, nos seus projectos de vida. Em tudo o que a sociedade lhes ensinou que podiam esperar da vida adulta.

Mas, mesmo assim, se virmos de uma certa perspectiva menos dramática, estas pessoas ainda podem sentir-se relativamente afortunadas: a precariedade não os atingiu também a nível afectivo. Um casal tem-se um ao outro. E quem se tem um ao outro, pode unir forças e o céu é o limite. Já é uma excelente base, é um bom começo. Quem tem amor tem tudo, afinal. Pois não é isso, o amor, a maior fonte de força e de motivação que existe na vida?

Em situação mais desfavorável ainda estará quem sente na pele a precariedade como factor transversal a tudo. Quem, para além da insegurança profissional, nem estabilidade emocional tem. Quem é atingido pela precariedade no amor, quem sente na pele a insegurança na vida sentimental, quem vive dos recibos verdes de relações inconsistentes, rarefeitas, dúbias, sem sentido. Mas estes últimos não protestam tanto, são mais silenciosos.

terça-feira, 9 de abril de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Acto reflexo

Argélia, Mali, Chipre. Uma trilogia de assuntos internacionais da actualidade. Associo-os a situações complicadas. Menos por serem em si efectivamente reais e sérias. Mais por terem em comum o facto de significarem a interrupção, não menos séria e real, do mais doce dos momentos.

Nettoyage du corps et de l'esprit


Primavera-Verão 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Esplendor na Relva

Aleluia. E já vai muito tarde.

Both sides of the story

Sobre esta engraçada guerrinha entre o Zé Diogo Quintela e o Miguel Sousa Tavares, tenho a dizer que gostei do comentário do Arrumadinho, que achei muitíssimo sensato e que veio recordar alguns factos que as pessoas tender a esquecer facilmente (ou não querem aprofundar, simplesmente), no meio das habituais ondas virais de comentários e entusiasmos que se geram nas redes sociais. E a recordar também que, na maior parte das vezes, vemos só um lado das coisas, só uma versão das histórias, só a superficialidade que nos convém. Esquecemos que somos todos humanos: é muito fácil acusar os outros. Mais difícil é sempre ter sensatez e reconhecer que temos todos telhados de vidro, etc. E tanto que isto nos acontece a todos nós, todos os dias.

terça-feira, 2 de abril de 2013

As Olimpíadas Maternas

De todas as batalhas a que este mundo já assistiu, uma das mais violentas é o desporto de alta competição entre (algumas) mães. É uma modalidade supremamente exigente. Uma espécie de citius altius fortius na grande carreira como progenitoras/educadoras. As mães competitivas entre si são a coisa mais feroz que existe. Primeiro, a comparar e esgrimir os percentis, os pesos e as capacidades motoras e cognitivas (vulgo, “gracinhas”) dos seus bebés; depois, a disputar combativamente o protagonismo, exibindo as notas escolares e proezas desportivas dos miúdos; mais tarde na vida, a projectarem-se na eventual ascensão social dos filhos, alardeando que os rebentos subiram mais alto no pódium da vida e que elas ganharam a medalha de ouro da condição materna. Fujam, fujam delas. Se puderem.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

On the road

Tenho andado com um cd de Mozart a tocar no carro. Não sei muito mais. Só sei que há flautas. E harpas também.
E.
Agora.
Ando.
Muito.
Calma.
No.
Trânsito.