quarta-feira, 28 de março de 2007

Interrupção Involuntária do Blog

Sem condições técnicas para postar. Stop. Retomamos a emissão assim que for possível. Stop.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Eppur si muove

A frase de Galileu aplicada à barriga entumescida de uma grávida: os meus olhos incrédulos, quando aquele volume redondo perfeito se mexeu à minha frente. Como um pequeno sismo.

Simbioses

A namorava com B.

Porque em B o que tinha de sobra em afectividade compensava o que lhe faltava em intelecto. Porque em A o que lhe era falho em cumplicidade sobrava-lhe em pragmatismo.

Com o amor não me mataste o desejo

Podia ser Heróis do Mar, mas é apenas um epitáfio.

The Painted Veil


de John Curran (2006)

Xangai dos anos 20 e personagens de Somerset Maugham. Fotografia notável. O calor. Calor. A luz. No quarto dos amantes, a luz dourada, filtrada pelas persianas de uma janela, sombras quentes projectando-se no chão. Tal como quando se lê a Indochina da Marguerite Duras.
Um piano desafinado que encurta a distância entre duas pessoas. O duelo psicológico, temperado pela fleuma britânica, entre mulher adúltera e marido punitivo.
E no meio do mar de sentimentos paradoxais, duas fendas sócio-políticas: a fúria dos nacionalistas chineses num fragmento de império britânico, e uma epidemia e superstições.

segunda-feira, 19 de março de 2007

"Dirty Old Town"

Didáctica do IrishBar
(para meninas bem comportadas)

1 – Em girls night out, não se meter com vocalista de banda de música irlandesa a tocar ao vivo. Mesmo que
a) ele seja giro;
b) ele tenha engraçado contigo;
c) ele esteja a usar saia;
d) ele faça as atenções do bar inteiro recaírem sobre ti.

2 – Não fazer sexo visual all night long (memorável conceptualização da minha amiga C.), desconcentrando o rapaz principalmente enquanto toca Fisherman's Blues.

3 – Não deixar amigas explorarem todo um vasto leque de piadas sobre a habilidade do dito-cujo para tocar vários instrumentos musicais e sua espantosa agilidade digital.


Adenda: Não escrever posts alcoolizada.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Agenda

Amanhã há noite de blues.

Don't get yourself wet, girl:

you'll get a nosebleed.

Quando a vida permite que assista à ascensão-e-queda de algumas relações de amizade, penso sempre que as verdadeiras relações humanas (sejam de que natureza forem) não são provas de celeridade; são duras provas de resistência e, não raro, provas de elevada perícia.

A cena do carro (Take 1)

(Jesse) – No, wait, you just said you need to love and be loved.
(Celine) – Yeah, but when I do, it quickly makes me nauseous. It’s a disaster. I mean, I’m really happy only when I’m on my own. Even being alone, it’s better than sitting next to a lover and feeling lonely. It’s not so easy for me to be a romantic. You start off that way, and after you’ve been screwed over a few times, you forget about your delusional ideas and you take what comes into your life. That’s not even true. I haven’t been screwed over, I’ve just had too many blah relationships. They were not mean, they cared for me, but there were no real connection or excitement. At least not from my side.

Before Sunset, de Richard Linklater (2004)

Desconhecidos

Há um certo fascínio que nos causam algumas pessoas que conhecemos mal – porque nelas e na imagem que delas temos, de contornos (ainda) imprecisos, cabem (ainda) todas as nossas ilusões e fantasias, todo o nosso optimismo humanista.
Durante o processo de conhecimento mútuo, tudo isso vai sendo inevitavelmente delapidado, moldado e, com sorte, reajustado.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.

Há dias em que, para se levantar da cama, uma rapariga tem que ser muito Beckettiana.

terça-feira, 13 de março de 2007

Foi você que pediu...

...um Wentworth Miller?

[does Prision Break ring any bell?]

Foi você que pediu...

...um Mark Vanderloo?
(que parece que tem parentes no Louriçal e tudo)


Para a minha amiga B., e para F., que tomou uns copos com o cavalheiro na Figueira (por muito inverosímil que pareça esta história).

A melhor frase cinematográfica de sempre*



Penso nisso amanhã.


* agora também disponível em formato de bolso, para melhor conforto no uso diário.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Antropologia cultural: do Dandy ao Bambi

O homem-Dandy é uma espécie praticamente extinta. Estilo muito comum entre os jovens bem-nascidos do séc. XIX, cultos, estetas incuráveis, amantes da boa vida e de mulheres belas, gourmets e gourmands, impregnados de charme até dizer chega. Verdadeiros Joões da Ega queirosianos, dependentes do beneplácito e da bolsa generosa das vigilantes mamãs, de lá de longe, nas quintas do Douro.
O séc. XXI [português] brindou-nos, contudo, e cada vez mais, com o homem-Bambi. Desprovidos de qualquer galanteria e sobretudo de elegância, imaturos e infantilizados, estes homens estão, ainda e sempre, agarrados às mamãs, dependentes das mamãs, a viverem com as mamãs até muito depois dos trinta.

Paris, je t'aime

Este fim-de-semana voltei a Paris, pela mão de Gus Van Sant, Walter Salles, Wes Craven, de tantos outros. Um belo filme, em que, mais do que os dezoito “pequenos romances de bairro”, a verdadeira protagonista é ela, a ville lumiére: a Paris do nosso encanto.

Gostei particularmente das histórias do Walter Salles, do Gus Van Sant e da segunda história, no Quai de Seine, entre o rapaz e a muçulmana. Não gostei muito da protagonizada pelos lindos olhinhos do Elijah Wood, meio Drácula de Bram Stocker meio Sin City.

Pais e filhos

Numa loja de roupa, o progenitor-todo-queque para o rebento-todo-queque:
- Gonçalo, não lamba a cadeira que não vale a pena.

A varanda do frangipani



Podia ser Mia Couto, mas é simplesmente um sonho tropical.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Erro de simpatia (2)

Correcção: acabou a menina simpática; já não há, e temos pena. De há uns tempos para cá, só há a versão com ar enojado, glacial. Indiscriminadamente blasé.
Como alguém dizia, temos todo o direito de sermos cínicos depois de termos sido ingénuos.

Erro de simpatia

Quando, em cálculo matemático ou revisão ortográfica, passamos tantas vezes pelo erro – na tentativa persistente da sua detecção –, que não o identificamos como tal. Assim é na vida. Os erros estão, muitas vezes, bem na nossa frente, mas insistimos sempre em ser estupidamente simpáticos.

Prioridades

"Há quem prefira ter discussões conjugais constantes à ausência total de conjugalidade. Também há quem prefira sentar-se num tapete de pregos."

Tendências, 2007

quinta-feira, 8 de março de 2007

8 de Março de 1857

Sou profundamente contra o dia da mulher, que existe tal como existe o dia do insuficiente renal, da criança, do deficiente e do idoso. Ou seja, grupos ou minorias frágeis ou socialmente fragilizados para os quais é preciso chamar a atenção na defesa dos seus interesses. Como as mulheres não são nada disto, nem vale a pena dizer mais. A luta contra certas desigualdades que persistem faz-se todos os dias, na prática. Não num só dia, com execráveis florzinhas que insistem em oferecer-nos por aí.
Mas este dia não deixa de ser importante como facto histórico e social:
Neste dia, no ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

Jogos com fronteiras

O tema não é novo. Estabelecemos novos tipos de fronteiras pessoais e expressamo-las através das novas tecnologias, evidenciando quem queremos que transponha ou não o limite fronteiriço, quem queremos dentro ou fora do nosso mapa afectivo. Hierarquizamos contactos no telemóvel, excluímos perfis no Gmail, deslinkamos um blogue, bloqueamos nomes no Messenger. Não sou excepção.

Pela mão de Alice

- Que tipo de pessoas é que aqui vivem?
- Nesta direcção – informou o Gato, apontando com a mão direita – vive um Chapeleiro. E naquela direcção – (apontando com a mão esquerda) – mora uma Lebre de Março. Podes visitar aquele que quiseres, são ambos loucos.
- Mas eu não quero andar entre gente louca – protestou Alice.
- Oh, não há nada a fazer – disse o Gato – Aqui somos todos loucos. Eu sou doido e tu também.
- Como é que sabes que eu sou doida? – perguntou Alice.
- Deves ser – respondeu o Gato, – senão não tinhas vindo cá parar.


Lewis Carroll, As Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Ed. Relógio d’Água.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Metafísica II

A maçada transcendental quando o verniz estala. Mas já não estamos a falar de manicure.

Metafísica I

Há qualquer coisa de metafísica imanente na jovem mulher que pinta as unhas das mãos – no tom vermelho-escuro-Mrs.-Mia-Pulp-Fiction.

"Tota mulier in utero"

(Mas é claro que Sócrates, além de grego, era parvo.)

Inteligência artificial

A inteligência em doses sensatas. A menos, exaspera; a mais, perturba, confunde, agita.

terça-feira, 6 de março de 2007

Da série: Ódios de estimação (2)

Pseudo-intelectuais e intelectuais de esquerda.
(sinónimos, por vezes)

Ganhar Khalo

Recuperá-la sim, porque agora que a exposição no CCB foi há quase um ano, já passou a overdose de posts sobre a sua obra por essa blogoesfera fora, já não está (assim tanto) na moda.

Tradução literal

Yours, sincerely, …
Assim terminavam, formalmente, as cartas inglesas de há dois séculos atrás. É uma pena que em português não seja usada a expressão de remate epistolar: gostava de um dia escrever “Sinceramente tua”.

Estado de sítio

Escrevo-lhe, interrogativa, sobre o fim do blog. Responde-me que escrever (“growing up in public”) é demasiado doloroso neste momento. E comoveu-me esta inesperada sinceridade sem pudor.
Quanto a mim, vai fazer-me (muita) falta o eco de identificação, neste momento.
Resta-me o livro.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Sliding doors

(James Hammerton) - Estamos sempre a recuperar de alguém.



Sliding doors (1998)

(III)



(II)



(I)