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Vi este filme em 2003. O que à partida era, para mim, mais uma estopada americana, um blockbuster aparatoso na forma e vazio no conteúdo, fez-me mudar ligeiramente de opinião e reconhecer-lhe algum valor.
Realizado por Peter Weir ("Clube dos Poetas Mortos") revela uma sensibilidade inesperada para um filme onde só aparecem duas mulheres, ao longe, como figurantes. À partida reunia todas as condições para eu não gostar de o ver. A acção passa-se quase integralmente num barco, e tem uma óbvia vertente beligerante predominante. Todo o elenco é masculino. Há uma presença feminina apenas intuída uma vez numa carta ("My dearest Sophie...") do "capitão Aubrey" (Russell Crowe), que humaniza (e romantiza levemente) esta personagem que se quer dura, audaz e viril.
Mas não é só isto. A sublime escolha de peças musicais clássicas, como uma das das sete Suites de Bach na banda sonora. O duelo "homem de acção, bélico" / "homem de ciência, reflexivo, ético") personificado pelo capitão e pelo médico. A asfixia e as tensões de quem está fechado no mar durante meses. A maravilhosa incursão às Galápagos, numa espécie de evocação darwiniana avant la lettre (a acção situa-se em 1805). O rigor da reconstituição histórica. A formação dos jovens oficiais (a presença de crianças/adolescentes no barco introduz um elemento lúdico, dramático e doce). Tudo isto faz um filme que, sem ser magnífico, está perto de o ser.
Este filme é exibido em aulas de pós-graduações de Gestão pela vertente de estratégia (nas tácticas militares) e é incluído na formação de oficiais das Forças Armadas pelos exemplos de liderança. Acho bem. E ainda por cima, tem todo o universo estético da Marinha, que faria suspirar qualquer uma das irmãs Bennett. E do que eu gosto mesmo, admitamos, é do "Mr. Pullings" (James D'Arcy).
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