De todas as biografias que li, a de Marie Curie, née Sklodowska, foi uma das que mais retive na memória. Não apenas pelo louvável mérito e dedicação ao trabalho na área da química e da física, que lhe valeram dois prémios Nobel, mas sobretudo pelo lado humano da sua trajectória pessoal de vida.
Há qualquer coisa de admirável na forma como ultrapassou obstáculos, vinda de uma família modesta, e como trabalhou e poupou para prosseguir os seus estudos. Na forma como sobreviveu alguns anos como governanta e como a irmã a ajudou, com algum sacrifício pessoal, para que pudesse frequentar a Sorbonne, vinda da sua pobre Polónia natal. No modo como se dedicava quase monasticamente ao estudo, passando privações, reduzindo a alimentação, muitas vezes, a chá e pão, passando gélidos serões sem aquecimento no quarto, absorta em exercícios matemáticos e fórmulas complexas.
E há um laivo de ternura na forma digna como sucedeu ao marido Pierre, falecido prematuramente, na ocupação da cátedra que este leccionava, iniciando a primeira aula com as últimas palavras com que ele tinha concluído a sua última.