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Todos os anos, sempre que vejo notícias sobre as candidaturas e entradas para a universidade, é inevitável lembrar-me do
gap year, algo que sempre foi muito comum nos países anglo-saxónicos, onde ele está, por assim dizer, "institucionalizado", como em Inglaterra ou na Austrália. E que lamentavelmente nunca existiu em Portugal. O que cá existe é uma mentalidade de horizontes pouco vastos, que preconiza a ideia de que tem que se entrar na universidade o mais depressa possível e que se deve de lá sair em tempo recorde (
à la Relvas, talvez). Ideias que infelizmente são agora ainda mais reforçadas pela crise e pelas dificuldades económicas das famílias.
É, de facto, uma grande pena. Acho que o gap year, se bem organizado, pode constituir uma oportunidade preciosa e irrepetível na vida, e, entre o secundário e o ensino superior, ter-se experiências valiosas como o voluntariado, viajar pelo mundo, fazer cursos no estrangeiro ou ter um primeiro contacto com o mundo do trabalho. Em suma, permite experiências de vida únicas, ganhar maturidade e responsabilidade acrescidas, e talvez até possa ajudar a reflectir e a esclarecer melhor a vocação para a área académica na qual se pretende ingressar a seguir. Penso que isto são muitas vantagens, mas há quem considere impensável um ano "perdido", e que o que é bom é ter recém-licenciados que entraram na universidade aos 17 e saem dela sem nunca terem assumido quaisquer responsabilidades, sem nunca terem viajado ou trabalhado, sem nunca terem saído de casa dos pais, sequer.