sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Extremismos

Se há uma espécie de pessoas que eu abomino são os radicais políticos, sejam eles de esquerda ou direita, do progresso ou do retrocesso. Por tratar-se de uma espécie que cativa e apaixona muitas almas por esse mundo fora, tem sido abundantemente retratada e explorada enquanto personagem, tanto na literatura como no cinema. Mas nem aí, no universo ficcional, me causa especial interesse.
No entanto, consigo compreender o sucesso de tal espécie: um carácter normalmente leal (o que, por si, até é bom) para com os seus camaradas (sucedendo amiúde os amigos tornarem-se muito facilmente odiosos inimigos) e ideais, de têmpera sempre apaixonada e optimista, líderes natos de belíssima e apurada oratória, uma personalidade irascível e sempre inflexível, gente de acção (e reacção) e sempre em movimento, nunca se dando por satisfeita, elevando a imoderação na política a uma condição genética. Como não gostar de gente assim?
Pois bem, eu maldigo dessa gente, e prefiro-a bem longe de mim.
(…)”

Como eu já aqui disse várias vezes, a maior parte dos meus amigos situa-se nas duas posições extremas do espectro político, pelo que este post me é particularmente caro (embora eu não queira os meus amigos longe de mim, a verdade é que eles são desconcertantes). Façam o favor de ler o resto deste post do impagável Ega, agora n’O Inútil.

Meia haste




"A história está repleta de eventos estruturais desencadeados por acontecimentos secundários. A da Europa não é exceção. Quando o jovem Gavrilo Princip disparou sobre o arquiduque Francisco Fernando, poucos antecipariam o início de uma ‘era de catástrofe’ que duraria três longas décadas. Há atos que têm o condão de revelar todas as tensões de um momento e com isso colocam a história em movimento. Por vezes para o bem, na maior parte das vezes para o mal.
As declarações do Comissário europeu Guenther Oettinger, afirmando que “as bandeiras dos pecadores da dívida deveriam ser colocadas a meia haste”, podem bem ser um destes eventos. O que o Comissário fez foi dar voz ao pensamento dominante na Alemanha: a crise do euro deve ser lida à luz de um conto moral em que o descontrolo das dívidas soberanas se resolve com atos punitivos. A narrativa é apelativa, os governos endividaram-se excessivamente, têm de pagar um preço e a austeridade é a única resposta. Fica sugerida a necessidade de uma punição moral para responder a uma década de desvario hedonista.
(...)"



Este post do Pedro Adão e Silva pode (e deve) ser lido na íntegra.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Portugal ainda não está preparado para os meus chapéus



Como ir a um casamento português e ofuscar a noiva, aturdir o noivo, espantar o padre, intrigar as crianças, enraivecer as mulheres convidadas e amedrontar os homens convidados?


Usando um acessório de cabelo do género do da foto acima.


(Os meus piores receios confirmaram-se. Sinto-me uma Sarah Affonso, uma Natália Correia, uma Florbela Espanca, uma Carolina Michaëlis: o meu país não está preparado para mim. Era uma cerimónia formal for fuck’s sake. )

À enésima vista


Penelope e Javier, que se conheceram na rodagem do filme “Jamón, jamón” (1992) e que assumiram uma relação após quase 20 anos de amizade. Tiveram o primeiro filho este ano.


Nunca gostei de coisas à primeira vista. Nem de compras por impulso. Nem de decisões imponderadas. Nada. E muito menos de paixões à primeira vista. (E, no entanto, não quer dizer que já não me tenham acontecido, e que não tenham até corrido bem.) Mas, de facto, ao observar alguns casos à minha volta, constato que acho muito mais interessante a perspectiva de um sentimento se desenvolver, insuspeito, após anos de consolidação de amizade, do que a partir de um flash perfeito, momentâneo, fulminante. Isto pode parecer muito menos romântico, mas creio que é muito mais humano.


Em primeiro lugar, porque não é algo forjado, nem planeado, nem artificial. A aproximação entre duas pessoas decorre naturalmente, muitas vezes até num contexto mais alargado de outras amizades, pontuada por intervalos de meses ou anos, irregularidades, afastamentos naturais, reencontros casuais. A um determinado ponto, pode até haver caminhos que pareçam irremediavelmente divergentes (p. ex. cada um envolvido ou casado com outra pessoa). Mas depois há volte-faces, há afinidades que se revelam, há discrepâncias que eventualmente se esbatem. Ou seja, é um percurso que pode acompanhar as próprias mudanças e evoluções das pessoas. E, em última instância, a evolução dos sentimentos de ambos, um pelo outro. Enfim, pode ser visto na perspectiva de algo que pode ir sendo polido, cinzelado, aperfeiçoado pelo tempo e pelas experiências pessoais de cada um, até resultar em algo mais profundo.


Não quero com isto dizer que isto já me tenha acontecido, ou nem sequer que gostaria que me acontecesse. Não estou a dizer que este tipo de relações funciona melhor que as outras. Acho apenas bonito, acho apenas estimulante. No fundo, representam a própria vida: a vida também não é perfeita, não oferece só um caminho mas vários, e, como costumo dizer, não é sempre a direito. É imperfeita, é irregular, é imprevisível. E, ao contrário do que geralmente se pensa, essas irregularidades e imperfeições são precisamente o que há de melhor. Na vida e nas relações.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Post levemente sionista







Não me vou armar para aqui em Golda Meir vestida pela Zara. (Por acaso, gostava de saber falar iídiche, para poder insultar pessoas num idioma indecifrável. Estou a brincar. Hum.) Nada disso. É só que, por vezes, quando tenho uma máquina fotográfica à mão, foco-me em determinados detalhes. Que podem ser cores, ou janelas, ou grupos étnicos, etc. E fotografo-os. Desta vez, em Londres, fixei-me, encantada, em judeus ortodoxos (não parece, mas juro que sou uma pessoa normal, ou pelo menos é isso que costumam dizer de mim, à excepção das minhas detractoras, mas isso é porque não conseguem ter a tonicidade muscular com que fui abençoada, ah ah. Adiante, chega de disparates.).
Ah, e eram tantos. Em todo o lado. Tão interessantes, tão fotografáveis, tão esteticamente diferentes, com as suas famílias numerosas, as esposas tão castamente vestidas (ao pé delas sou uma Judith pecadora), os (muitos) filhos bem comportados todos vestidos de igual, os caracolinhos e as barbas bíblicas coroados pelos eternos quipás. Nutro por esta gente a curiosidade simpática e saudável que sempre me suscita a noção de “Outro” e de diferença entre seres humanos, e um vago interesse sociológico. (Isto são palavras bonitas para tentar justificar o meu indiscreto voyeurismo. Lá está, eu sei que sou uma Judith ou uma Salomé e, sobretudo, também tenho um my own private Muro das Lamentações.)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Dias verdes

































(Bem, sob pena de estragar o momento pseudo-poético destas fotos no blog... Nesta pequena estátua, reparem no ar consolado do rapazinho da frente. -- Clicar para aumentar a imagem -- Bom, e do que está por trás também. Ah, os prazeres, hum, inocentes. Ok, tenho de deixar de ser perversa. Mas a sério, acho que alguém devia proibir esta exibição impudica em público. Ou sou só eu que vejo o mal? Esta minha cabeça podre.)












(Aqui, se aumentarem a imagem, no topo da imagem podem ver uma piquena borboleta surpreendida por mim em pleno voo. Ah, meu Deus, eu vou longe, meus amigos, eu vou longe. Mas é só quando estou distraída.)

































Dias azuis





























terça-feira, 20 de setembro de 2011

Recurso estilístico: antítese

Uma imagem idílica para contrastar com uma situação financeira tão feia.


(E não custa nada imaginar que o filho da p*** voltará a ganhar as eleições.)


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Afinal





A aparência idílica de um casal é sempre, sempre, mais tarde, desmanchada pela realidade, um pouco mais fria que a primeira.



Afinal, Wallis Simpson não viveu num paraíso dourado e confortável no Sul de França, ao lado de um ex-rei que abdicara por ela, enquanto a Europa se afundava. Ou melhor, viveu, mas ao lado de um homem caprichoso, imaturo, dependente (a quem chamava Peter Pan), que estava obcecado por ela e que usou esse pretexto para se desresponsabilizar da maçada incómoda de ser rei. E esse guetto dourado foi apenas o culminar de um processo doloroso onde, imediatamente antes do casamento com Edward, se viu no meio de complicados enredos amorosos cruzados e de um divórcio quase forçado, e se viu pressionada, sozinha e impiedosamente escrutinada pela imprensa.



Durante todo esse tempo, e ironicamente, foi com o ex-marido, Ernest Simpson, e não com o seu futuro marido, que se correspondeu de forma mais sincera, e que desabafou sobre a incerteza do seu futuro.

O grotesco e a graciosidade

Nunca gostei de Hemingway. Aquela escrita crua e masculina, machista e impiedosa, por vezes, limitou-me as leituras a O Adeus às Armas e a O Velho e o Mar, que não me deixaram saudades. Nunca gostei de Hemingway. Mas agrada-me a sua biografia turbulenta e boémia. Sobretudo aquela parte de ter vivido em Cuba, com a qual se sente uma certa cumplicidade sempre que se vagueia pelas ruas da parte antiga de Havana ou quando se entra na Bodeguita que ele costumava frequentar, sempre que se respira aquele ar húmido e carregado, com cheiro a puro e a flores exóticas, cheio de sons abafados de violão pelas ruas. Nunca gostei de Hemingway. Mas gosto desta fotografia do escritor. Não sei quem está ao seu lado (penso que deve ser a sua quarta e última mulher), mas gosto do ambiente da casa, gosto de imaginar que era em Cuba e que se sentia o calor, os sons e a luz que vinham da rua, gosto da descontracção dos animais por ali espalhados, e gosto sobretudo do contraste entre a figura grotesca do homem, descalço, disforme e estiraçado, e a postura suave e graciosa da mulher, gosto dos olhares cruzados numa espécie de duelo incongruente e silencioso.

Good morning sunshine

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Domus justitiae

O sotaque nortenho (que me parece beirão) do nosso bastonário da Ordem dos Advogados é das coisas mais lindas deste mundo. Gosto tanto de o ouvir. Não só pelo sotaque, aliás. Também pelas verdades que diz, directas, doa a quem doer, com aquela postura terra-a-terra. (Não sei porquê mas também não me é difícil imaginar Marinho Pinto, com aquele jeito patusco e o sotaque e os modos simples, atrás do balcão de uma taberna em Amarante.)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

We must resume





"Atonement" (2007), de Joe Wright.

sábado, 10 de setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fim de Verão








Gosto tanto tanto tanto deste estilo que vou (tentar) copiá-lo descaradamente ainda este mês, em jeito de despedida do Verão.

Victoria Bekham



Kate Winslet no Festival de Veneza 2011



Eu não digo? A Victoria Beckham pode ser uma gaja inqualificável, mas lá que se está a sair muito bem na área da moda, lá isso está.


(Passada a febre dos desfiles de moda internacional, prometemos que este blog voltará ao seu registo normal. Só não sabemos quando.)

Gucci

A Gucci já no Verão nos tinha brindado com uma colecção de cores fortes e de contrastes improváveis, mas que resultavam sabiamente. Neste Outono/Inverno, foi ainda mais longe, e apresentou conjugações cromáticas absolutamente deliciosas. Quase não cabem em descrições, as imagens falam por si. A moda italiana é assim: pura ousadia e sensualidade. Quando não é através das cores é através do corte. Que sirvam de inspiração.











































Lanvin

Como não podia deixar de ser, adoro as capelines Lanvin da nova estação.














Altuzarra






A allure intemporal de Altuzarra.