Penelope e Javier, que se conheceram na rodagem do filme “Jamón, jamón” (1992) e que assumiram uma relação após quase 20 anos de amizade. Tiveram o primeiro filho este ano.
Nunca gostei de coisas à primeira vista. Nem de compras por impulso. Nem de decisões imponderadas. Nada. E muito menos de paixões à primeira vista. (E, no entanto, não quer dizer que já não me tenham acontecido, e que não tenham até corrido bem.) Mas, de facto, ao observar alguns casos à minha volta, constato que acho muito mais interessante a perspectiva de um sentimento se desenvolver, insuspeito, após anos de consolidação de amizade, do que a partir de um flash perfeito, momentâneo, fulminante. Isto pode parecer muito menos romântico, mas creio que é muito mais humano.
Em primeiro lugar, porque não é algo forjado, nem planeado, nem artificial. A aproximação entre duas pessoas decorre naturalmente, muitas vezes até num contexto mais alargado de outras amizades, pontuada por intervalos de meses ou anos, irregularidades, afastamentos naturais, reencontros casuais. A um determinado ponto, pode até haver caminhos que pareçam irremediavelmente divergentes (p. ex. cada um envolvido ou casado com outra pessoa). Mas depois há volte-faces, há afinidades que se revelam, há discrepâncias que eventualmente se esbatem. Ou seja, é um percurso que pode acompanhar as próprias mudanças e evoluções das pessoas. E, em última instância, a evolução dos sentimentos de ambos, um pelo outro. Enfim, pode ser visto na perspectiva de algo que pode ir sendo polido, cinzelado, aperfeiçoado pelo tempo e pelas experiências pessoais de cada um, até resultar em algo mais profundo.
Não quero com isto dizer que isto já me tenha acontecido, ou nem sequer que gostaria que me acontecesse. Não estou a dizer que este tipo de relações funciona melhor que as outras. Acho apenas bonito, acho apenas estimulante. No fundo, representam a própria vida: a vida também não é perfeita, não oferece só um caminho mas vários, e, como costumo dizer, não é sempre a direito. É imperfeita, é irregular, é imprevisível. E, ao contrário do que geralmente se pensa, essas irregularidades e imperfeições são precisamente o que há de melhor. Na vida e nas relações.
Ora, acabo de ler a tua crónica e fiquei com uma vontade indomável de a comentar por certas e determinadas razões, está bem? Imediatamente abri esta janela (já passaram uns bons dez segundos)... e afinal é melhor não. As ideias estão a começar a contradizer-se (no meu cérebro, bem entendido), de maneira que vou ficar por dizer algo bem mais pacífico e a-propósito: está um calor do caneco!
ResponderEliminarE pronto, pelo que escreveste vou passar a ler-te. Veremos se é cada tiro, cada melro :)
Miguel
"Afinal é melhor não" ...? Não quero inibições entre os leitores! :) Aqui pode-se comentar tudo à vontade, todas as opiniões são sempre bem vindas. Sobretudo as divergentes ;)
ResponderEliminarAdorei o teu post. Concordo na íntegra. Tudinho.
ResponderEliminarHá quem diga que é menos romântico. Eu acho que é precisamente o contrário, porque é uma (re)descoberta do outro. :)
ResponderEliminarO teu post fez-me lembrar o filme "One Day"
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