Quando soube das últimas sobre a suspensão do apedrejamento de Sakhineh Ashtiani (será mesmo?) e apesar de um assunto não ter a ver com os outros (ou talvez tenha), acudiu-me ao pensamento a lembrança de dois momentos cinematográficos que me impressionaram muito.
A cena da delapidação (literal) em praça pública da jovem viúva (interpretada por Irene Papas), em Zorba, o Grego (um filme sobrevalorizado), e a espécie de "delapidação física e moral" da personagem de Giuseppe Tornatore, Maléna, protagonizada por Monica Bellucci (no filme homónimo que tem sido, por sua vez, subvalorizado).
Apesar de na história do cinema existirem cenas muito mais dramáticas, a inesperada violência destas duas cenas choca, até pela total impunidade dos culpados, em ambas as situações. Impunidade, porque houve legitimação social. Aliás, os dois crimes são a expressão consumada de um fortíssimo dispositivo de controlo social: a cobiça masculina e a inveja feminina, exercidas cruelmente sobre uma mulher que está "desprotegida".
Dir-me-ão que são cenas do passado. Talvez. Só sei que provêm de dois países com uma matriz cultural muito próxima da nossa (Itália e Grécia) e que espelham uma realidade: a vulnerabilidade da mulher jovem, bela e sozinha, que ousa ter livre arbítrio sobre o seu corpo e a sua vida pessoal.
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