quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O grotesco e a graciosidade

Nunca gostei de Hemingway. Aquela escrita crua e masculina, machista e impiedosa, por vezes, limitou-me as leituras a O Adeus às Armas e a O Velho e o Mar, que não me deixaram saudades. Nunca gostei de Hemingway. Mas agrada-me a sua biografia turbulenta e boémia. Sobretudo aquela parte de ter vivido em Cuba, com a qual se sente uma certa cumplicidade sempre que se vagueia pelas ruas da parte antiga de Havana ou quando se entra na Bodeguita que ele costumava frequentar, sempre que se respira aquele ar húmido e carregado, com cheiro a puro e a flores exóticas, cheio de sons abafados de violão pelas ruas. Nunca gostei de Hemingway. Mas gosto desta fotografia do escritor. Não sei quem está ao seu lado (penso que deve ser a sua quarta e última mulher), mas gosto do ambiente da casa, gosto de imaginar que era em Cuba e que se sentia o calor, os sons e a luz que vinham da rua, gosto da descontracção dos animais por ali espalhados, e gosto sobretudo do contraste entre a figura grotesca do homem, descalço, disforme e estiraçado, e a postura suave e graciosa da mulher, gosto dos olhares cruzados numa espécie de duelo incongruente e silencioso.

2 comentários:

  1. Eu gosto muito de Hemingway, mesmo muito. Tens de ler o "Por Quem os Sinos Dobram" um livro brilhante que te vai fazer mudar a opinião sobre ele. Tenta um dia.

    mb

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  2. Hum..... não sei... Não sei mesmo! A escrita dele mexe-me um bocado com os nervos.

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