Eu, com o passar do tempo, cada vez gosto mais de sair de casa, para grande desgosto dos senhores do Ikea que andam sempre a enviar mensagens subliminares para as pessoas se enfiarem em casa.
Eu cá gosto de sair, ver pessoas diferentes, ter reencontros imprevistos, conhecer gente inesperadamente. E pessoalmente, destesto todas as coisas que, na modernidade, "conspiram" para que fiquemos em casa, a sedentarizarmo-nos e a estupidificarmo-nos.
Já nem falo da televisão com 56389 canais e do dvd que substituíu o cinema. Vou apenas destacar, por exemplo, aquelas maquinetas de café infernais que são uma praga em casa de todos os meus amigos (e que ainda por cima nem sequer vêm com um clone do Clooney para consolo, é só mesmo a maquineta). Agora a moda já não é ir ao café com os amigos, agora é ficar em casa (whatelse?) a tomar também o diacho do café.
Como se já não bastasse a detestável doença dos jantares em casa que começa a atacar as pessoas a partir dos trinta/quarenta anos (seja lá pela crise ou pelo comodismo ou pelo prazer sádico de ver a mulher do anfitrião cheia de stress e trabalho para cozinhar pro bono para tanta gente, e para limpar tudo, que é a parte pior).
Acho aborrecido, até porque uma pessoa já passa quase todo o dia dentro de uma casa (excepto os que trabalham ao ar livre), e agora com essa do jantarinho/cafezinho em casa é que uma pessoa se trama. Já nem se pode ver nem ser vista, que era um dos maiores prazeres de se sair. Por muito boa que seja a companhia, fica-se ali, dentro do mesmo círculo de pessoas, e nem hipótese há para o imprevisto, para conhecer sítios novos, para desfrutar de lugares agradáveis ao ar livre.
Da mesma forma, detesto as máquinas de desporto que as pessoas têm em casa (oiço muito a minha vizinha de cima a correr na passadeira que nem louca; felizmente ela só se lembra de a usar poucos meses antes do Verão). São algo que nunca poderá substituir uma arejada corrida no parque, ou até mesmo no ginásio, onde sempre se vê outras pessoas, convive-se, e a pessoa é estimulada a tirar o pijama e a arranjar-se de forma diferente.
Como não podia deixar de ser também não gosto do célebre campo semântico: trabalhar/em casa/pantufas. Há os grandes apologistas deste método, e há os grandes cépticos. Estou entre os segundos. Trabalhar em casa com portátil e net, pontualmente, dá jeito, sim. Mas por sistema, acho que daria comigo em doida. É salutar ter um horário para cumprir. Ter um dia estruturado. Ver e falar com colegas (por muito chatos que sejam). Sair-se de casa todos os dias com o estímulo de vestir adequadamente, em vez de se andar enfiado em pantufas como se todos os dias fossem domingo de manhã.
A mim ninguém me domestica. Pronto.