quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Harakiri, meu amor

Ora então um ministro japonês veio dizer que os idosos deveriam era apressar-se a morrer, que era um alívio e um consolo para as despesas do Estado. É muito curioso isto vir de um país com uma muito longeva população, que social e tradicionalmente respeita muitíssimo (ou tem respeitado até agora) a população anciã. Mas deve ser um sinal dos tempos. (Não quererá o ministro, que tem 72 anos, dar o exemplo e praticar um nobre harakiri em prol do Estado Social...?)

Quer dizer: a humanidade tem enfrentado todo um milenar e complexo processo civilizacional essencialmente orientado para o avanço da medicina, da melhoria das condições de vida e da saúde pública, da educação. Tudo, para, em última instância, contribuir-se para o aumento da esperança média de vida e, em suma, simplesmente para todos termos uma vida cada vez mais longa e melhor.

E agora andam os políticos a guinchar sobre aquilo que não é novidade nenhuma e que já era mais que previsível em todos os tratados de demografia desde os anos 70. Que a população está a envelhecer, que os que dependem são mais do que os que contribuem. E tudo isto é verdade, de facto. O que me parece é que agora cada vez mais se dá, à descarada, as boas vindas à morte dos desgraçados dos anciãos, como se os pudéssemos varrer para debaixo do tapete (eu incluída, que daqui a umas décadas também o serei, e trabalharei até à provecta idade de 89 anos sem direito a reforma nenhuma e sem a poesia dos Pearl Jam de uma elderly woman behind the counter in a small town), e a mesma começa a ser, igualmente à descarada, considerada a panaceia para os grandes males dos Estados.

Vivemos um contra-senso. Mas é normal, é tudo normal. Não se preocupem. Um primo meu, há muitos anos, imaginou que a nossa crescente população envelhecida criaria um dia o Partido dos Idosos Unidos. O PIU, portanto. E com um PIU, com certeza, todos venceremos.

4 comentários:

  1. mmm...respeito pelos idosos é muito relativo. Não esqueçamos a tradiçao japonesa (felizmente, posta em prática em época de grandes escassez) de abandonar os idosos na montanha.

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  2. Oh Sissi, isso do abandono não era com os esquimós...? :)
    De qualquer forma, nos dias de hoje, são afirmações graves. O tal ministro já veio a público reformular o que disse, mas ainda assim.

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  3. Isso foi uma alarvidade e das grandes.
    Mas lá está, realmente (e p essa gentalha)é a luz ao fundo no túnel. O ideal p eles era q todos batêssemos as botas uns escassos meses depois de entrarmos na reforma (deixaria de haver pagamento da mesma, e não se gastava na saúde, espectáculo heim!)
    Qual respeito pela pessoas qual q. Números, nós vemos é números...cambada de atrasados.

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