quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Take my breath away

A paixão. Pois, não é essa do Rui Veloso, a quem eu, aliás, recomendaria deixar de escrever e compôr música antes de começar a ingerir alcool. Ou melhor, a quem eu aconselharia a deixar de fazer música, de todo.
A paixão, mas é a aquela outra. A tal.
Chega-se à conclusão que só nos dá dores de cabeça. Uma pessoa fica alienada do Mundo, pouco lhe importando se houve um golpe de estado numa qualquer república centro-africana ou se houve novas plataformas de diálogo no conflito israelo-palestiniano. Ou mesmo se se almoçou hoje ou não. Só se olha infatigavelmente para o telemóvel, esse instrumento tecnológico capaz de nos fazer a pessoa mais miserável do mundo se não dá sinal de vida, ou estupidamente sobressaltada ao mínimo toque - mas afinal era só para assinalar falta de bateria. Esquecemo-nos das chaves dentro de casa; deixamos o carro ir abaixo na fila do trânsito, mas sorrimos imbecilmente para o condutor que nos insulta só porque nos lembrámos de uma frase ou de um certo sorrisinho. Anda-se num estado de euforia insuportável para quem está à nossa volta, e rimo-nos de um e-mail que o objecto dessa coisa da paixão nos envia, enquanto os colegas falam do funeral de não sei quem. Perde-se o apetite - e, para cúmulo, chega-se a cair na cama com febre. Do sono nem se fala, que Morfeu está de costas voltadas para nós, quando preferimos olhar as estrelas recordando o som de uma voz. Não se trabalha nem se estuda decentemente, anda-se angustiado, ou desvairado, sem meio termo, como numa revisitação da adolescência, mas sem acne na cara (nunca mais!!) e sem Sonic Youth no I-pod. O coração anda-nos na boca, enquanto a boca não está junto a outra, e sofre sobressaltos sem fim. A conta do telefone sobe para valores astronómicos, tal qual o ritmo cardíaco na iminência de um possível encontro.
Em suma, uma maçada pouco saudável, pouco económica e eu diria que pouco higiénica, até.

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