domingo, 9 de setembro de 2007
A masculinidade nórdica (3)
O nórdico e a paternidade. Eis um dos meus capítulos preferidos. O nórdico não é educado para evidenciar a sua macheza afastando-se tanto quanto pode da esfera doméstica e da puericultura. O nórdico não parece entrar em pânico, nem ver a sua virilidade posta em causa, se gozar tranquilamente a licença de paternidade em casa, se mudar sozinho a fralda da criança no parque. Não vai a correr, desajeitado e assustado, devolver ao universo feminino a criança que chora. Responsabiliza-se, e assume sem complexos os cuidados paternais, sem a rigidez embaraçada do português.
A masculinidade nórdica (2)
Sendo pouco jactante, o homem nórdico não olha muito para as mulheres que passam. Como uma vez alguém disse: “o sueco não olha muito para a sueca”. Indefectível virtude, pois não fazem as figuras de tarados que os latinos fazem por aí fora, transbordando de baba sempre que vêem um rabo de saia. Não. O nórdico é suave e discreto. Aparentemente indiferente, inacessível. Aparentemente. E, se não olha ostensivamente para as mulheres, torna-se o companheiro perfeito: evita o desconforto de sermos preteridas nas suas atenções quando uma fulana qualquer passa na rua. A isto eu chamo «civilização».
A masculinidade nórdica (1)
Coloquemos já os pontos nos ii: o nórdico é frio. Mas ao mesmo tempo é, em geral, encantadoramente bonito, alto, magro e elegante. Ao contrário do português que (ainda que com honrosas excepções) é feio, atarracado e de compleição grosseira. As feições do nórdico são harmoniosas e agradáveis, ainda que quase me façam cair no cliché "anjos de Botticelli".
Agora sem rodeios líricos: os gajos são, na generalidade, podres de bons. Só não acredita quem nunca saiu do cantinho à beira mar esquecido.
Agora sem rodeios líricos: os gajos são, na generalidade, podres de bons. Só não acredita quem nunca saiu do cantinho à beira mar esquecido.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Um outro Verão
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Da relação entre a época estival e os padrões de religiosidade da população masculina
Indicador: frequência com que uma rapariga em território português deixa atrás de si um lastro de suspiros de inspiração cristã: "Jesus...", "Meu Deus!", "Noooooossa Senhora".
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Girl's best friend
O melhor amigo referira-se a ela, há vários anos, como um diamante em bruto. Julgou, ao tempo, entender o que isso significava. Tanto quanto actualmente estavam, ambos, conscientes de uma (eventualmente perturbadora) lapidação.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
O Islão não é todo igual
Há uma vertente comovente. Por entre as inextricáveis ramificações sunitas, xiitas, ismaelitas, há um inesperado ramo de paz. São os místicos sufitas, que se pode encontrar em Nizzamudin, na Índia, na Turquia, e muitos outros lugares. Pacíficos, por vezes loucos, uns rodopiam até ao êxtase – são os dervixes – outros limitam-se a derramar muito doces lágrimas contemplativas.
Bourgeoisie II
Bourgeoisie I
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Metáfora da trave
Fazia lembrar uma ginasta de alta competição.
Exímia nos movimentos. Isometria e perfeição. Todo o gesto articulado, corpo anguloso, numa precisão milimétrica. Sem lugar para um passo em falso. A um tempo, forte e frágil. O corpo, uma haste flexível.
Rigidez: a expressão facial fechada, na tentativa de superação de si mesma. Cabelo severamente aprisionado em elásticos e ganchos. As mãos ressequidas, mergulhadas em pó. A adiada feminilidade concentrada na maquilhagem exagerada. Fato justo e reduzido: invólucro brilhante para um pequeno corpo musculado, deformado, peito liso – o corpo como tela das opções de uma vida; uma escolha vincada no corpo.
Na excelência, o seu auge é breve. Aos vinte anos será velha. A trave estreita (demasiado estreita) é o palco do seu equilíbrio acrobático e precário.
Exímia nos movimentos. Isometria e perfeição. Todo o gesto articulado, corpo anguloso, numa precisão milimétrica. Sem lugar para um passo em falso. A um tempo, forte e frágil. O corpo, uma haste flexível.
Rigidez: a expressão facial fechada, na tentativa de superação de si mesma. Cabelo severamente aprisionado em elásticos e ganchos. As mãos ressequidas, mergulhadas em pó. A adiada feminilidade concentrada na maquilhagem exagerada. Fato justo e reduzido: invólucro brilhante para um pequeno corpo musculado, deformado, peito liso – o corpo como tela das opções de uma vida; uma escolha vincada no corpo.
Na excelência, o seu auge é breve. Aos vinte anos será velha. A trave estreita (demasiado estreita) é o palco do seu equilíbrio acrobático e precário.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Dramaturgia
Sábado à noite, o teatro recomeça. Apagam-se marcas de lágrimas e de noites insones, para se reacender a luz do rosto. E desfila-se por aquele palco, e recebe-se um Estás tão bem e capta-se um Quem é a tua amiga, e não é que a tristeza desapareça milagrosamente. A maquilhagem é que é um prodígio miraculoso posto ao serviço da rapariga moderna – e de toda a mise-en-scéne social de sábado à noite.
Profecia
Em pequena, vaticinaram-lhe que, quando crescesse, ia partir corações; quando o tempo chegou, os esquemas amorosos em que se meteu revelaram-se, sem glória, meros quebra-cabeças.
Indoor girl
Muitos namoros começam e acabam dentro de carros: eles são, enfim, muitas vezes, locais de encontro e de despedida. Pontos de partida e de chegada. Alfa e ómega de episódios (mais ou menos duradouros) de afectividade.
Que há quem enjoe em automóveis em movimento, é um facto. Que eu sou uma dessas pessoas, é verdade – relacionar isto com o assunto do parágrafo anterior é que já será talvez um exercício pernicioso.
Que há quem enjoe em automóveis em movimento, é um facto. Que eu sou uma dessas pessoas, é verdade – relacionar isto com o assunto do parágrafo anterior é que já será talvez um exercício pernicioso.
Heart Shaped Box (II)
Solícita, a amiga da pérola do Atlântico, tentou, ao telefone, auscultar-lhe o estado emocional:
- Então e esse coração?
- Removi-o cirurgicamente.
- Então e esse coração?
- Removi-o cirurgicamente.
Heart Shaped Box (II)
Solícita, a amiga da pérola do Atlântico, tentou, ao telefone, auscultar-lhe o estado emocional:
- Então e esse coração?
- Removi-o cirurgicamente.
- Então e esse coração?
- Removi-o cirurgicamente.
Do tempo, quando cristaliza
Ele trocava palavras breves com o amigo comum. Alheada da conversa entre os dois, ela olhava em redor. Distraída, voltou a olhá-lo, por acaso: apesar da conversa deles, do alto da sua estatura, os olhos fixos nela.
Crush on you 3
Era um pequeno fraco que tinha por aquela pessoa. E, como era um fraco, a coisa não lhe durou muito.
Desmistificar Copenhaga
- sol (o dinamarquês também bronzeia, e bem)
- simpatia (apesar de civilizados, os dinamarqueses são frios, distantes – e muito pouco pacientes com estrangeiros em geral)
- frio (lá fora, quase não se sente porque é seco; dentro de casa, costuma estar um calor infernal, tudo é aquecido, mesmo no Verão)
- lixo (também o há no chão de uma capital escandinava)
- trânsito (pouco: o desagradável efeito visual e sonoro do trânsito é substituído ou mitigado por milhares de bikes nas ruas)
- comida (hum… eu já tinha mencionado a frugalidade nórdica?...)
- simpatia (apesar de civilizados, os dinamarqueses são frios, distantes – e muito pouco pacientes com estrangeiros em geral)
- frio (lá fora, quase não se sente porque é seco; dentro de casa, costuma estar um calor infernal, tudo é aquecido, mesmo no Verão)
- lixo (também o há no chão de uma capital escandinava)
- trânsito (pouco: o desagradável efeito visual e sonoro do trânsito é substituído ou mitigado por milhares de bikes nas ruas)
- comida (hum… eu já tinha mencionado a frugalidade nórdica?...)
Crush on you 2
Ela sabia que ele não sabia que ela sabia. Com esse trunfo na mão, observava-o de longe, discreta e divertida. Tacteava-lhe a consistência, tomava-lhe o pulso, radiografava-lhe a estrutura. Cronometrava-lhe a brevidade do entusiasmo.
Crush on you 1
Não sabia como abordá-la. Ficava intimidado com aquela presença luminosa. Como estratégia de compensação, massacrava-lhe a amiga, involuntariamente convertida em Cyrano de Bergérac via SMS.
Embaixatriz
Gostava da ideia de que todo o estrangeiro é representante do seu país. Os locais olham-nos como uma amostra do nosso povo, ainda que esteja longe de ser representativa. Enquanto estava nesse papel sentia, portanto, a responsabilidade. Já de volta, sabia que tinha levado a missão diplomática a bom porto.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Cansei de ser sexy
Um belo dia, cansou-se. Foi quando descobriu esse curioso projecto musical de umas miúdas brasileiras, num voo intercontinental, e se identificou com o nome.
Estava cansada de vida plástica. O corpo, mero objecto maleável ao serviço da criatividade e rasgo artístico dos outros. Um cabide humano, no final de contas, maquilhado de glamour, disfarçado pelo verniz superficial das festas privadas pós-desfile. Cansada dos castings humilhantes, das rivalidades de bastidores, do book incessantemente submetido a apreciação. Fatigada, trés fatiguée, das escalas em Heathrow, em Frankfurt, em Fiumicino, no Charles de Gaulle. Da vida pessoal dobrada na mala sempre pronta a partir, da vida social perdida no tráfego aeroportuário e nos fusos horários. Da luz opressora dos projectores dos estúdios fotográficos. A pose, a pose. Strike the pose. As cidades do mundo que desfilam pela impessoalidade das janelas dos quartos de hotel, um windowshopping de cosmopolitismo. Os países que nunca há tempo para visitar. A tirania do tempo – contra-relógio – numa actividade de desgaste rápido.
Cansou-se num voo de longa duração, e esse foi o seu verdadeiro regresso a casa.
Estava cansada de vida plástica. O corpo, mero objecto maleável ao serviço da criatividade e rasgo artístico dos outros. Um cabide humano, no final de contas, maquilhado de glamour, disfarçado pelo verniz superficial das festas privadas pós-desfile. Cansada dos castings humilhantes, das rivalidades de bastidores, do book incessantemente submetido a apreciação. Fatigada, trés fatiguée, das escalas em Heathrow, em Frankfurt, em Fiumicino, no Charles de Gaulle. Da vida pessoal dobrada na mala sempre pronta a partir, da vida social perdida no tráfego aeroportuário e nos fusos horários. Da luz opressora dos projectores dos estúdios fotográficos. A pose, a pose. Strike the pose. As cidades do mundo que desfilam pela impessoalidade das janelas dos quartos de hotel, um windowshopping de cosmopolitismo. Os países que nunca há tempo para visitar. A tirania do tempo – contra-relógio – numa actividade de desgaste rápido.
Cansou-se num voo de longa duração, e esse foi o seu verdadeiro regresso a casa.
Dem lille Havfrue
Este blog andou atracado num belo porto de mercadores
Nos últimos tempos estivemos, portanto, num reino muito antigo, na terra do Patinho Feio, do Lego, da Bang & Olufsen, do castelo de Hamlet, do arquitecto da Ópera de Sidney, dos vikingues, do berço do design nórdico: uma terra de príncipes e princesas. Onde me senti em casa.
The June sessions
Ou: uma evasão meridional o mais real possível.
Muito sol, calor seco, mar e mar, alimentação mediterrânica com muito peixe grelhado, azeite e pão do Sul, noites quentes e estreladas, perfumes doces, entardeceres lânguidos. O mês de Junho, encerrei-o em beleza.
Muito sol, calor seco, mar e mar, alimentação mediterrânica com muito peixe grelhado, azeite e pão do Sul, noites quentes e estreladas, perfumes doces, entardeceres lânguidos. O mês de Junho, encerrei-o em beleza.
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Nørdic Mist ®
"O verdadeiro windowshopping"
Os cómicos relatos de um amigo acerca de como deambulou pelo Red Light District de Amesterdão.
Cartão de visita
Dos amigos do sexo oposto, com homossexualidade mal resolvida, recebia convites sociais simpáticos, condescendentes: uma jovem com bom aspecto é sempre um agradável cartão de visita em redes de sociabilidade ambíguas.
quinta-feira, 21 de junho de 2007
terça-feira, 19 de junho de 2007
Bom senso bíblico
Por mais que custe, não olhes para trás, ou transformas-te em sal, como a mulher de Lot.
Bons vícios (1)
A banda sonora original do filme “Marie Antoinette”, de Sofia Coppola (2006).
The Cure, The Radio Dept., Bow Wow Wow, New Order, Siouxsie & the Banshees, The Strokes, etc.
Résumé/Abstract: anos 80 sim, mas (só) dos bons.
The Cure, The Radio Dept., Bow Wow Wow, New Order, Siouxsie & the Banshees, The Strokes, etc.
Résumé/Abstract: anos 80 sim, mas (só) dos bons.
segunda-feira, 18 de junho de 2007
Oh, I don't like it like this
I’m dying here
And you keep walking
(“I don’t like it like this”, The Radio Dept.)
And you keep walking
(“I don’t like it like this”, The Radio Dept.)
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Crimes em série
Confesso que perdi 3,5 episódios do Portugal – um Retrato Social, do António Barreto. Shame on me.
Crimes em série
Sou uma herege, uma iconoclasta, uma proscrita entre os meus amigos: nunca apreciei o Dr. House.
Crimes em série
Ao domingo, esqueço-me sempre de prestar culto ao Wentworth Miller, perdão, ao Prision Break.
(Vou ali punir-me severamente e já volto.)
(Vou ali punir-me severamente e já volto.)
quinta-feira, 14 de junho de 2007
Da série: Ódios de estimação
O provicianismo de alguns portugueses no estrangeiro: tudo tem que ser comparado com o que há em Portugal, sem haver um olhar limpo de relativização perante o que é novo e diferente.
Turistas portugueses no Norte da Europa: uma praga evitada e a evitar.
Turistas portugueses no Norte da Europa: uma praga evitada e a evitar.
Da fuga para a frente
Nunca gostei de encontrar compatriotas lá fora. Ouvir falar a minha língua, ver fisionomias e hábitos lusos. É como se me sentisse friamente roubada da experiência de evasão.
Quixotescos
Enveredaram por uma via animados pela ideia romântica de defender os fracos e oprimidos, um, e de curar os enfermos à João Semana, o outro. Perceberam a ilusão, e viram-se velhos, quando o percurso os levou ao beco do aburguesamento cómodo do seu altruísmo inflamado e juvenil.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Triângulo das Bermudas
Geralmente, as poucas pessoas interessantes com quem ela se cruzava na vida desapareciam pouco depois. Viajavam para o estrangeiro, mudavam-se para outra cidade, perdia-se-lhes o rasto, sumiam-se. Deixavam-na sozinha no meio da mediocridade dos que ficam.
Algo está podre no reino da Dinamarca
Agarrados
O final de uma relação é como deixar uma dependência. O que mais custa são os primeiros tempos de privação e é importante arranjar-se uma terapia de substituição.
Cansei de ser sexy
Um belo dia, cansou-se. Foi quando descobriu esse curioso projecto musical de umas miúdas brasileiras, num voo intercontinental, e se identificou com o nome.
Estava cansada de vida plástica. O corpo, mero objecto maleável ao serviço da criatividade e rasgo artístico dos outros. Um cabide humano, no final de contas, maquilhado de glamour, disfarçado pelo verniz superficial das festas privadas pós-desfile. Cansada dos castings humilhantes, das rivalidades de bastidores, do book incessantemente submetido a apreciação. Fatigada, trés fatiguée, das escalas em Heathrow, em Frankfurt, em Fiumicino, no Charles de Gaulle. Da vida pessoal dobrada na mala sempre pronta a partir, da vida social perdida no tráfego aeroportuário e nos fusos horários. Da luz opressora dos projectores dos estúdios fotográficos. A pose, a pose. Strike the pose. As cidades do mundo que desfilam pela impessoalidade das janelas dos quartos de hotel, um windowshopping de cosmopolitismo. Os países que nunca há tempo para visitar. A tirania do tempo – contra-relógio – numa actividade de desgaste rápido.
Cansou-se num voo de longa duração, e esse foi o seu verdadeiro regresso a casa.
Estava cansada de vida plástica. O corpo, mero objecto maleável ao serviço da criatividade e rasgo artístico dos outros. Um cabide humano, no final de contas, maquilhado de glamour, disfarçado pelo verniz superficial das festas privadas pós-desfile. Cansada dos castings humilhantes, das rivalidades de bastidores, do book incessantemente submetido a apreciação. Fatigada, trés fatiguée, das escalas em Heathrow, em Frankfurt, em Fiumicino, no Charles de Gaulle. Da vida pessoal dobrada na mala sempre pronta a partir, da vida social perdida no tráfego aeroportuário e nos fusos horários. Da luz opressora dos projectores dos estúdios fotográficos. A pose, a pose. Strike the pose. As cidades do mundo que desfilam pela impessoalidade das janelas dos quartos de hotel, um windowshopping de cosmopolitismo. Os países que nunca há tempo para visitar. A tirania do tempo – contra-relógio – numa actividade de desgaste rápido.
Cansou-se num voo de longa duração, e esse foi o seu verdadeiro regresso a casa.
quarta-feira, 28 de março de 2007
Interrupção Involuntária do Blog
Sem condições técnicas para postar. Stop. Retomamos a emissão assim que for possível. Stop.
quarta-feira, 21 de março de 2007
Eppur si muove
A frase de Galileu aplicada à barriga entumescida de uma grávida: os meus olhos incrédulos, quando aquele volume redondo perfeito se mexeu à minha frente. Como um pequeno sismo.
Simbioses
A namorava com B.
Porque em B o que tinha de sobra em afectividade compensava o que lhe faltava
The Painted Veil
de John Curran (2006)
Xangai dos anos 20 e personagens de Somerset Maugham. Fotografia notável. O calor. Calor. A luz. No quarto dos amantes, a luz dourada, filtrada pelas persianas de uma janela, sombras quentes projectando-se no chão. Tal como quando se lê a Indochina da Marguerite Duras.
Um piano desafinado que encurta a distância entre duas pessoas. O duelo psicológico, temperado pela fleuma britânica, entre mulher adúltera e marido punitivo.
E no meio do mar de sentimentos paradoxais, duas fendas sócio-políticas: a fúria dos nacionalistas chineses num fragmento de império britânico, e uma epidemia e superstições.
Um piano desafinado que encurta a distância entre duas pessoas. O duelo psicológico, temperado pela fleuma britânica, entre mulher adúltera e marido punitivo.
E no meio do mar de sentimentos paradoxais, duas fendas sócio-políticas: a fúria dos nacionalistas chineses num fragmento de império britânico, e uma epidemia e superstições.
terça-feira, 20 de março de 2007
segunda-feira, 19 de março de 2007
"Dirty Old Town"
Didáctica do IrishBar
(para meninas bem comportadas)
(para meninas bem comportadas)
1 – Em girls night out, não se meter com vocalista de banda de música irlandesa a tocar ao vivo. Mesmo que
a) ele seja giro;
b) ele tenha engraçado contigo;
c) ele esteja a usar saia;
d) ele faça as atenções do bar inteiro recaírem sobre ti.
2 – Não fazer sexo visual all night long (memorável conceptualização da minha amiga C.), desconcentrando o rapaz principalmente enquanto toca Fisherman's Blues.
3 – Não deixar amigas explorarem todo um vasto leque de piadas sobre a habilidade do dito-cujo para tocar vários instrumentos musicais e sua espantosa agilidade digital.
Adenda: Não escrever posts alcoolizada.
sexta-feira, 16 de março de 2007
A cena do carro (Take 1)
(Jesse) – No, wait, you just said you need to love and be loved.
(Celine) – Yeah, but when I do, it quickly makes me nauseous. It’s a disaster. I mean, I’m really happy only when I’m on my own. Even being alone, it’s better than sitting next to a lover and feeling lonely. It’s not so easy for me to be a romantic. You start off that way, and after you’ve been screwed over a few times, you forget about your delusional ideas and you take what comes into your life. That’s not even true. I haven’t been screwed over, I’ve just had too many blah relationships. They were not mean, they cared for me, but there were no real connection or excitement. At least not from my side.
Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
(Celine) – Yeah, but when I do, it quickly makes me nauseous. It’s a disaster. I mean, I’m really happy only when I’m on my own. Even being alone, it’s better than sitting next to a lover and feeling lonely. It’s not so easy for me to be a romantic. You start off that way, and after you’ve been screwed over a few times, you forget about your delusional ideas and you take what comes into your life. That’s not even true. I haven’t been screwed over, I’ve just had too many blah relationships. They were not mean, they cared for me, but there were no real connection or excitement. At least not from my side.
Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
Desconhecidos
Há um certo fascínio que nos causam algumas pessoas que conhecemos mal – porque nelas e na imagem que delas temos, de contornos (ainda) imprecisos, cabem (ainda) todas as nossas ilusões e fantasias, todo o nosso optimismo humanista.
Durante o processo de conhecimento mútuo, tudo isso vai sendo inevitavelmente delapidado, moldado e, com sorte, reajustado.
Durante o processo de conhecimento mútuo, tudo isso vai sendo inevitavelmente delapidado, moldado e, com sorte, reajustado.
quinta-feira, 15 de março de 2007
Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.
Há dias em que, para se levantar da cama, uma rapariga tem que ser muito Beckettiana.
terça-feira, 13 de março de 2007
A melhor frase cinematográfica de sempre*
segunda-feira, 12 de março de 2007
Antropologia cultural: do Dandy ao Bambi
O homem-Dandy é uma espécie praticamente extinta. Estilo muito comum entre os jovens bem-nascidos do séc. XIX, cultos, estetas incuráveis, amantes da boa vida e de mulheres belas, gourmets e gourmands, impregnados de charme até dizer chega. Verdadeiros Joões da Ega queirosianos, dependentes do beneplácito e da bolsa generosa das vigilantes mamãs, de lá de longe, nas quintas do Douro.
O séc. XXI [português] brindou-nos, contudo, e cada vez mais, com o homem-Bambi. Desprovidos de qualquer galanteria e sobretudo de elegância, imaturos e infantilizados, estes homens estão, ainda e sempre, agarrados às mamãs, dependentes das mamãs, a viverem com as mamãs até muito depois dos trinta.
O séc. XXI [português] brindou-nos, contudo, e cada vez mais, com o homem-Bambi. Desprovidos de qualquer galanteria e sobretudo de elegância, imaturos e infantilizados, estes homens estão, ainda e sempre, agarrados às mamãs, dependentes das mamãs, a viverem com as mamãs até muito depois dos trinta.
Paris, je t'aime
Este fim-de-semana voltei a Paris, pela mão de Gus Van Sant, Walter Salles, Wes Craven, de tantos outros. Um belo filme, em que, mais do que os dezoito “pequenos romances de bairro”, a verdadeira protagonista é ela, a ville lumiére: a Paris do nosso encanto.
Gostei particularmente das histórias do Walter Salles, do Gus Van Sant e da segunda história, no Quai de Seine, entre o rapaz e a muçulmana. Não gostei muito da protagonizada pelos lindos olhinhos do Elijah Wood, meio Drácula de Bram Stocker meio Sin City.
Pais e filhos
Numa loja de roupa, o progenitor-todo-queque para o rebento-todo-queque:
- Gonçalo, não lamba a cadeira que não vale a pena.
- Gonçalo, não lamba a cadeira que não vale a pena.
sexta-feira, 9 de março de 2007
Erro de simpatia (2)
Correcção: acabou a menina simpática; já não há, e temos pena. De há uns tempos para cá, só há a versão com ar enojado, glacial. Indiscriminadamente blasé.
Como alguém dizia, temos todo o direito de sermos cínicos depois de termos sido ingénuos.
Como alguém dizia, temos todo o direito de sermos cínicos depois de termos sido ingénuos.
Erro de simpatia
Quando, em cálculo matemático ou revisão ortográfica, passamos tantas vezes pelo erro – na tentativa persistente da sua detecção –, que não o identificamos como tal. Assim é na vida. Os erros estão, muitas vezes, bem na nossa frente, mas insistimos sempre em ser estupidamente simpáticos.
quinta-feira, 8 de março de 2007
8 de Março de 1857
Sou profundamente contra o dia da mulher, que existe tal como existe o dia do insuficiente renal, da criança, do deficiente e do idoso. Ou seja, grupos ou minorias frágeis ou socialmente fragilizados para os quais é preciso chamar a atenção na defesa dos seus interesses. Como as mulheres não são nada disto, nem vale a pena dizer mais. A luta contra certas desigualdades que persistem faz-se todos os dias, na prática. Não num só dia, com execráveis florzinhas que insistem em oferecer-nos por aí.
Mas este dia não deixa de ser importante como facto histórico e social:
Neste dia, no ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".
Mas este dia não deixa de ser importante como facto histórico e social:
Neste dia, no ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".
Jogos com fronteiras
O tema não é novo. Estabelecemos novos tipos de fronteiras pessoais e expressamo-las através das novas tecnologias, evidenciando quem queremos que transponha ou não o limite fronteiriço, quem queremos dentro ou fora do nosso mapa afectivo. Hierarquizamos contactos no telemóvel, excluímos perfis no Gmail, deslinkamos um blogue, bloqueamos nomes no Messenger. Não sou excepção.
Pela mão de Alice
- Que tipo de pessoas é que aqui vivem?
- Nesta direcção – informou o Gato, apontando com a mão direita – vive um Chapeleiro. E naquela direcção – (apontando com a mão esquerda) – mora uma Lebre de Março. Podes visitar aquele que quiseres, são ambos loucos.
- Mas eu não quero andar entre gente louca – protestou Alice.
- Oh, não há nada a fazer – disse o Gato – Aqui somos todos loucos. Eu sou doido e tu também.
- Como é que sabes que eu sou doida? – perguntou Alice.
- Deves ser – respondeu o Gato, – senão não tinhas vindo cá parar.
- Nesta direcção – informou o Gato, apontando com a mão direita – vive um Chapeleiro. E naquela direcção – (apontando com a mão esquerda) – mora uma Lebre de Março. Podes visitar aquele que quiseres, são ambos loucos.
- Mas eu não quero andar entre gente louca – protestou Alice.
- Oh, não há nada a fazer – disse o Gato – Aqui somos todos loucos. Eu sou doido e tu também.
- Como é que sabes que eu sou doida? – perguntou Alice.
- Deves ser – respondeu o Gato, – senão não tinhas vindo cá parar.
Lewis Carroll, As Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Ed. Relógio d’Água.
quarta-feira, 7 de março de 2007
Metafísica II
A maçada transcendental quando o verniz estala. Mas já não estamos a falar de manicure.
Metafísica I
Há qualquer coisa de metafísica imanente na jovem mulher que pinta as unhas das mãos – no tom vermelho-escuro-Mrs.-Mia-Pulp-Fiction.
Inteligência artificial
A inteligência em doses sensatas. A menos, exaspera; a mais, perturba, confunde, agita.
terça-feira, 6 de março de 2007
Da série: Ódios de estimação (2)
Pseudo-intelectuais e intelectuais de esquerda.
(sinónimos, por vezes)
(sinónimos, por vezes)
Ganhar Khalo
Tradução literal
Yours, sincerely, …
Assim terminavam, formalmente, as cartas inglesas de há dois séculos atrás. É uma pena que em português não seja usada a expressão de remate epistolar: gostava de um dia escrever “Sinceramente tua”.
Assim terminavam, formalmente, as cartas inglesas de há dois séculos atrás. É uma pena que em português não seja usada a expressão de remate epistolar: gostava de um dia escrever “Sinceramente tua”.
Estado de sítio
Escrevo-lhe, interrogativa, sobre o fim do blog. Responde-me que escrever (“growing up in public”) é demasiado doloroso neste momento. E comoveu-me esta inesperada sinceridade sem pudor.
Quanto a mim, vai fazer-me (muita) falta o eco de identificação, neste momento.
Resta-me o livro.
Quanto a mim, vai fazer-me (muita) falta o eco de identificação, neste momento.
Resta-me o livro.
segunda-feira, 5 de março de 2007
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Só para homens
A Luna tem toda a razão. Formas generosas como as da Beyoncé e da insuflável Scarlett Johansson de olhar bovino (mesmo!), é que se tornam objecto de um culto fanático (patético, arrisco) entre a rapaziada. A sensualidade quase agressiva que entra pelos olhos dentro. Tudo o que é corporal e que é excessivo. Tudo tem que ser grande, na medida em que é óbvio, evidente, manifesto. Ou seja, como as criancinhas que ficam fascinadas com o que é saliente, protuberante, tal como com tudo o que é cor garrida ou ruído estridente.
Escapa-lhes (ainda) o que é diáfano.(Winona Ryder)
a graciosidade,
(Rania da Jordânia)
a elegância de um porte,
(Julie Delpy)
a luminosidade de um olhar,
(Grace Kelly)
a correcção de um rosto,
são informação de difícil processamento na estética grosseira de alguns.
Há coisas, portanto, que são como o slogan daquele perfume:
Só para homens. Os rapazes ainda vão ter de esperar.
O eterno Verão
Irrita-me um bocadinho esta cultura climática que se tem vindo a impor (muito subsidiária das marcas internacionais de “moda democratizada”, rainhas do franchising) em que, em pleno Inverno, quanto maior a quantidade de pele exposta, melhor, porque também maior (supostamente) a carga sensual do conjunto.
As mulheres (jovens) devem vestir a menor quantidade de roupa possível, sobretudo nos códigos de vestuário da sociabilidade nocturna, seja de que natureza for.
E mesmo de dia: em Janeiro, vejo passar adolescentes a caminho da escola secundária, com a barriga à mostra e a aguentarem, estoicamente, os 6 graus matutinos, envergando somente um blusão justo (que observa cuidadosamente as regras do justo-e-curto para permitir o vislumbre do decote – adeus golas altas!), desprezando, alegremente, o risco da pneumonia e o empecilho de um casaco comprido (que, claro, aqueceria muito mais, mas não deixa o rabo convenientemente exposto à apreciação de terceiros, o que seria, isso sim, uma chatice). Nas Queimas das Fitas é vê-las desfilar em top’s de alças (exactamente como num dia de Agosto, com a pequena diferença de serem ao ar livre, em noites frias e chuvosas de Maio).
Lema: gaja que quer estar vestida (despida) à altura do acontecimento, rapa frio nas estações frias do ano, ponto final.
Ora bem: nem o aquecimento global é assim tão dramático que tenha tornado Portugal num clima tropical de eterno Verão, nem, com a tal história do clima temperado, as casas e demais espaços interiores estão assim tão bem aquecidos, como todos sabemos.
É, portanto, um espectáculo desconcertante para o espectador atento ver o desequilíbrio dos pares, no que à indumentária diz respeito: as festas, os bares, os restaurantes, estão repletos de homens confortáveis, invejavelmente vestidos com blusões e/ou camisolas de manga comprida, não raro de malha, e mulheres a tiritar de frio com um único casaco de Inverno a cobrir um qualquer trapo (mínimo) de cetim ou algodão de manga à cava. Como se estivessem 28 graus centígrados, quando, na realidade, estão uns 7 graus à noite.
Claro que, quem não quer seguir a ditadura, tem bom remédio. Mas isso é fácil de dizer. Esta ditadura (porque é de ditadura da moda que se trata) tem-se acentuado nos últimos anos, e para a qual muito têm contribuído os mostradores das tais grandes lojas, que praticamente só oferecem blusas finíssimas, sem mangas e sem costas, em todas as colecções de Outono/Inverno – as peças de roupa que há uns dez anos atrás estariam apenas nas colecções primaveris. De tal modo, que se torna difícil conciliar o vestuário “bonito” com o “confortável e quente” quando se quer fugir aos padrões da roupa de dia, “de trabalho”. Até porque o frio e o ser-se friorento, são ideias que se associam cada vez mais à ideia de velho, bafiento, e o que está na moda é ser-se novo, cheio de saúde, logo, encalorado.
Não admira, portanto, que haja por aí muita garota a rir despropositadamente à noite: são os esgares de enregelamento. Não duvidem.
As mulheres (jovens) devem vestir a menor quantidade de roupa possível, sobretudo nos códigos de vestuário da sociabilidade nocturna, seja de que natureza for.
E mesmo de dia: em Janeiro, vejo passar adolescentes a caminho da escola secundária, com a barriga à mostra e a aguentarem, estoicamente, os 6 graus matutinos, envergando somente um blusão justo (que observa cuidadosamente as regras do justo-e-curto para permitir o vislumbre do decote – adeus golas altas!), desprezando, alegremente, o risco da pneumonia e o empecilho de um casaco comprido (que, claro, aqueceria muito mais, mas não deixa o rabo convenientemente exposto à apreciação de terceiros, o que seria, isso sim, uma chatice). Nas Queimas das Fitas é vê-las desfilar em top’s de alças (exactamente como num dia de Agosto, com a pequena diferença de serem ao ar livre, em noites frias e chuvosas de Maio).
Lema: gaja que quer estar vestida (despida) à altura do acontecimento, rapa frio nas estações frias do ano, ponto final.
Ora bem: nem o aquecimento global é assim tão dramático que tenha tornado Portugal num clima tropical de eterno Verão, nem, com a tal história do clima temperado, as casas e demais espaços interiores estão assim tão bem aquecidos, como todos sabemos.
É, portanto, um espectáculo desconcertante para o espectador atento ver o desequilíbrio dos pares, no que à indumentária diz respeito: as festas, os bares, os restaurantes, estão repletos de homens confortáveis, invejavelmente vestidos com blusões e/ou camisolas de manga comprida, não raro de malha, e mulheres a tiritar de frio com um único casaco de Inverno a cobrir um qualquer trapo (mínimo) de cetim ou algodão de manga à cava. Como se estivessem 28 graus centígrados, quando, na realidade, estão uns 7 graus à noite.
Claro que, quem não quer seguir a ditadura, tem bom remédio. Mas isso é fácil de dizer. Esta ditadura (porque é de ditadura da moda que se trata) tem-se acentuado nos últimos anos, e para a qual muito têm contribuído os mostradores das tais grandes lojas, que praticamente só oferecem blusas finíssimas, sem mangas e sem costas, em todas as colecções de Outono/Inverno – as peças de roupa que há uns dez anos atrás estariam apenas nas colecções primaveris. De tal modo, que se torna difícil conciliar o vestuário “bonito” com o “confortável e quente” quando se quer fugir aos padrões da roupa de dia, “de trabalho”. Até porque o frio e o ser-se friorento, são ideias que se associam cada vez mais à ideia de velho, bafiento, e o que está na moda é ser-se novo, cheio de saúde, logo, encalorado.
Não admira, portanto, que haja por aí muita garota a rir despropositadamente à noite: são os esgares de enregelamento. Não duvidem.
Um certo azedume
Confirmei que nunca se bebe nada de jeito nos baby showers e que a própria comida vem infantilizada. Pelo menos nestes encontros as pessoas têm a inibição que não se vê nos casamentos e não me chateiam com insinuações de que o próximo serei eu. Sim, acuso um certo azedume.
Daqui.
Daqui.
Tagarelar ancestral
Dizer o não-dito: tal é o projecto da escrita. A meia-distância entre dizer e não dizer há o cliché, que enuncia, apesar da usura, uma parte da realidade. O bebé entrega-me a uma forma de amizade com os lugares-comuns; torna-me curiosa a seu respeito, faz com que eu os levante como se fossem pedras para ver, por baixo deles, o correr das verdades.
Escuto o rumor do hospital, as puericultoras, as outras mães, a minha própria educação, as frases das revistas ilustradas, o ruído de fundo da psicologia: a minha fibra maternal. Aquilo a que chamam o instinto, feito de ditados e de provérbios, de testemunhos e de conselhos: um tagarelar ancestral.
Escuto o rumor do hospital, as puericultoras, as outras mães, a minha própria educação, as frases das revistas ilustradas, o ruído de fundo da psicologia: a minha fibra maternal. Aquilo a que chamam o instinto, feito de ditados e de provérbios, de testemunhos e de conselhos: um tagarelar ancestral.
Marie Darrieussecq, “Le Bébé”
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Cartilha de Bruni
De top model dos anos 90 com mau génio a mulher no esplendor dos 39 com voz de quem saiu do sono há pouco, Carla Bruni diz de sua justiça:
“Quando eu era manequim sentia falta de uma atmosfera mais criativa, ou seja, nessa altura era apenas um objecto, não participava no processo criativo. Essa parte ficava nas mãos dos fotógrafos e produtores – até os maquilhadores tinham mais influência do que eu.”
“Penso que não era suposto a vida humana durar tanto tempo como dura actualmente, devido aos avanços da medicina. Em tempos, quando se morria aos 30/35 anos, seria mais fácil manter uma relação longa, mas, se morremos aos 89, já é diferente. (…) Provavelmente não teremos apenas uma, mas sim duas ou três relações duradouras ao longo da vida.”
“Quando eu era manequim sentia falta de uma atmosfera mais criativa, ou seja, nessa altura era apenas um objecto, não participava no processo criativo. Essa parte ficava nas mãos dos fotógrafos e produtores – até os maquilhadores tinham mais influência do que eu.”
“Penso que não era suposto a vida humana durar tanto tempo como dura actualmente, devido aos avanços da medicina. Em tempos, quando se morria aos 30/35 anos, seria mais fácil manter uma relação longa, mas, se morremos aos 89, já é diferente. (…) Provavelmente não teremos apenas uma, mas sim duas ou três relações duradouras ao longo da vida.”
“Those dancing days are gone”
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
O cair das máscaras
porque o Carnaval acabou.
Há um conhecido blogger, controverso, provocador, acutilante. Por detrás dos posts e do template, resume-se ao sexo masculino, à Grande Lisboa, aos 34 anos, ao modesto 1, 72 m. Chubby (o mais surpreendente, e não pela negativa).
[Prerrogativas. Às vezes, sem querer, priva-se com a “alta-roda” da blogoesfera portuguesa. E há dissonâncias entre imagens e realidade.]
Há um conhecido blogger, controverso, provocador, acutilante. Por detrás dos posts e do template, resume-se ao sexo masculino, à Grande Lisboa, aos 34 anos, ao modesto 1, 72 m. Chubby (o mais surpreendente, e não pela negativa).
[Prerrogativas. Às vezes, sem querer, priva-se com a “alta-roda” da blogoesfera portuguesa. E há dissonâncias entre imagens e realidade.]
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Alexandre O'Neill
Foi autor, como se sabe, da célebre frase "Há mar e mar, há ir e voltar", na campanha do Instituto de Socorros a Náufragos, que passava na televisão nos Verões da minha infância, com a melancólica "Surfer Girl" dos Beach Boys, a tocar em fundo.
Igualmente conhecido, mas não tanto pela sua igual autoria, é o antigo slogan: "Bosh é bom" (não acrescentar rr indevidamente).
Kit de sobrevivência II
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come:
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.
William Shakespeare (1564 – 1616), Soneto 116
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come:
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.
William Shakespeare (1564 – 1616), Soneto 116
Kit de sobrevivência I
Sintonia
A estar triste, prefiro no Inverno. Assim como assim, há o recolhimento, os dias negros e a metafórica promessa primaveril. Não há nada pior que a bofetada do calor, e de toda a antítese do Verão, para uma melancolia que se quer curtir bem.
O Livro do Meio
Anteontem, no telejornal da Sic Notícias, apresentado por Mário Crespo (não sei se é impressão minha, mas a lembrar o Carlos Pinto Coelho quando... Acontecia): Maria Velho da Costa (uma das três Marias, de 1972), co-autora do livro que já está ali na estante, prontinho para ser “devassado”.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
Nos últimos dias
Em jantares, no café, nos bares, em aniversários, o mundo dividiu-se entre quem é do Sim e quem é do Não.
Nome
O seu maior pesadelo, naquele fim de semana, era o seu nome não constar:
a) na lista de reserva de umas calças lindas de tão justas, na loja em saldos;
b) dos cadernos eleitorais.
Referendo (3)
E agora, depois de uma luta que já dura desde 1998 (pelo menos para mim - altura em que, assumo, não fui votar porque não podia, e, novata na faculdade, ao tempo, não imaginava que uma questão tão clara e evidente para mim, fosse tão fracturante para a sociedade do país que eu então julgava conhecer), já estou um bocado cansada de falar e ouvir falar de abortos:
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