quarta-feira, 30 de junho de 2010
É quase como vender a alma ao diabo
Amar tem contrapartidas, todos o sabemos.
Por exemplo, se queremos embarcar nisso do amor, e ter toda a felicidade associada, também temos de estar preparados para uma certa dose de sofrimento.
Seja antes de tudo começar (há processos de conquista que são autênticos partos dolorosos), seja durante (as célebres crises dos 3, dos 7, dos 10 anos, etc.), seja depois (quando tudo acaba).
Ou seja. Somos amados, mas sofremos um bocado. Mas somos amados. (Hum... Mas, lá está, sofremos um bocado.)
terça-feira, 29 de junho de 2010
Simetria
Quando se é perfeccionista incorrigível e um bocado control freak, tem-se imensa dificuldade em aceitar as incongruências da vida. Tais como uma boa parte do nosso percurso depender do puro acaso e, muitas das vezes, dos erros.
Quem procura seguir uma trajectória linear, certinha, sofre sempre de cada vez que há desvios imprevistos. A quem sempre adorou a simetria, o equilíbrio e as escolhas racionais, custa-lhe, quando se impõem as irregularidades das escolhas afectivas.
La famiglia
O prognatismo de D. Vito Corleone (aka Marlon Brando com algodões no interior das bochechas) é dos produtos cinematográficos mais tragicómicos que Hollywood jamais pariu.
Mas adiante.
A certa altura da vida, já todos nós conhecemos gente que se assemelha à da pandilha siciliana do Padrinho Corleone. Gente do piorio, mânfios de primeira apanha, mas, ai credo!, com grandes pruridos de honra e códigos “éticos” muito nobres, sempre muito enfiados na igreja e a benzerem-se todos.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Anti-clímax
O que mais aprecio num homem é uma virtude rara.
Não é a beleza, nem o sentido de humor, nem tão pouco a inteligência.
É a bondade.
domingo, 27 de junho de 2010
Existencialismo e dança oriental clássica
Ah, pois. Pensava-se que isto era um blog muito clássico e sereno e tal, e afinal , vai-se a ver, tem um lado bimbo.
Aliás, eu diria mesmo que se pode falar em hipertrofia do lado bimbo.
Mas que querem? Em vez de me dedicar à angústia existencialista e ao solipsismo da alma nas quais se refugiou o meu filósofo Kierkegaard quando acabou tudo com a Regina Olsen, decidi dedicar-me à dança.
Não vou ficar para a História do moderno pensamento europeu, mas divirto-me muito mais do que ele.
Olha, esta menina dança (quase) tão bem como eu
É alemã e tem o meu estilo de dança preferido: sorridente, delicada, elegante e extremamente feminina.
No extremo oposto, mas igualmente perfeitas no que fazem, estão a Saida (voluptuosa, inflamada, mas um bocado pornostar), a Didem (exuberante, mas um pouco exagerada nas técnicas de percussão) e a sempre magnífica Rachel Brice (ainda que gótica e no seu próprio estilo de fusão tribal).
sábado, 26 de junho de 2010
Da intemporalidade
Uma princesa persa do século XVII, Arjumand Banu Begam, casou-se com Shah Jahan, imperador mongol. Shah Jahan, que recebeu todo o seu apoio e afecto em várias circunstâncias, e que a adorou em vida, ficou devastadíssimo com a sua morte. Encomendou então o mais belo túmulo que alguma vez havia sido erguido, e desenhou ele próprio o projecto, para homenagear para sempre a mulher da sua vida. Mesmo (ou sobretudo) depois de 14 filhos e quase vinte anos de vida em comum.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Testosterona de luxo #11
Os suecos, por outro lado
Uma vez, um sueco disse-me que tinha estado no Porto. Quando lhe perguntei se tinha gostado, respondeu-me que tinha achado a cidade“muito comunista”.
Depreendi que ele não estivesse a falar da atmosfera ideológica da cidade ou das gentes, mas sim de similaridades estéticas (alguma degradação e obscuridade arquitectónicas e urbanísticas) entre o Porto e algumas cidades da velha Cortina de Ferro, por oposição às assépticas cidades nórdicas.
Decidi não lhe dar conversa. Não era muito giro, enfadou-me, e eu não o quis defraudar nas (muito baixas) expectativas que certamente tinha em relação às pessoas portuguesas.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Prazeres fonéticos
Bem, tudo aquilo no post anterior para dizer que há verdadeiros
deleites inexplicáveis.
deleites inexplicáveis.
Como o som gutural da língua sueca. Sons
ásperos que parecem ter estranhos laivos de idiomas asiáticos, que
parecem vir directamente e sem qualquer evolução da dos antigos
bárbaros vikingues e outros grupos tribais do Norte gelado. Uma língua
tão agreste que contrasta com a sofisticação do seu povo. E que,
apesar de indecifrável, proporciona um puro gozo auditivo.
Ora reparem:
ásperos que parecem ter estranhos laivos de idiomas asiáticos, que
parecem vir directamente e sem qualquer evolução da dos antigos
bárbaros vikingues e outros grupos tribais do Norte gelado. Uma língua
tão agreste que contrasta com a sofisticação do seu povo. E que,
apesar de indecifrável, proporciona um puro gozo auditivo.
Ora reparem:
Prazeres fonéticos (Preâmbulo)
A Suécia tem muita coisa boa. A comida não é uma delas.
Mas, por exemplo, a forma hábil com que se optimizou o potencial turístico do casamento da princesa Victoria é louvável, como aqueles cartazes todos à chegada ao aeroporto de Estocolmo a dizerem“Bem-vindos à cidade do amor”.
E também a forma como se incorporou logo o potencial simbólico dedemocracia e de sociedade sem grandes desníveis de classes sociais queo próprio casamento da Victoria consubstancia: o jovem personal trainer, empresário self made man, que se torna príncipe consorte dafutura rainha.
Potencial simbólico aquele que, na geração anterior, já havia sidoapanágio do casamento dos próprios pais de Victoria, unindo um jovem rei a uma rapariga plebeia de origem germânico-brasileira (coisa pela qual muito lutaram e que, por só por isso, não desculpa as resistências iniciais que colocaram à Victoria e ao seu Daniel, mas enfim).
A família real sueca é uma família jovem, simpática, moderna, que educou os filhos em escolas públicas até ao secundário, não tem grandes snobismos nem escândalos. E que, como se vê, consegue até conquistar simpatia junto de uma jovem republicana portuguesa.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Não, nunca morre
Era perito a escrever frases crípticas. O que ele não sabia é que ela tinha todo o prazer em despi-lo de enigmas.
Poder de síntese
À maneira dos ritmos sazonais oitocentistas
Ao longo do ano, e ao contrário do que agora é vigente (talvez por causa da praia e das festas de Verão), a sua vida social seguia mais ou menos a tendência da que antigamente era a da alta burguesia e da aristocracia do século dezanove.
Ou seja, o clímax é atingido nos rigores do Inverno (quando é uma tortura vestir um top leve e ousado), à semelhança do que dantes era a época dos salões de bailes, a saison, que reabria em Outubro e se prolongava até Março ou Abril.
Em chegando o tempo primaveril, menos inclemente, a vida social vai-se tornando menos frenética, e no Verão todos se dispersam nos seus retiros de campo ou na praia.
E tudo é bonito, luminoso, leve, cálido e langoroso como uma bela manhã de Verão. Socialmente, é uma grandesíssima seca.
Porque à mulher de César não basta sê-lo
terça-feira, 22 de junho de 2010
Vidas, ideais, circunstâncias
Olga Benário era judia, comunista, alemã. Como pertencia activamente à Internacional Comunista, foi destacada para acompanhar pessoalmente e apoiar Luís Carlos Prestes, que regressava da Rússia para o Brasil, para reforço do Partido Comunista Brasileiro. Envolveram-se, durante esses tempos conturbados da ditadura de Getúlio Vargas. Foram descobertos e denunciados quando ela estava grávida de uma filha. Judia e comunista, combinação duplamente letal. Foi deportada para a Alemanha, presa pela Gestapo sem nenhuma acusação. Teve a filha (que sobreviveu), e foi executada num campo de concentração, onde ainda teve tempo de mobilizar acções de resistência e de solidariedade entre as reclusas.
Dar o nó
Quantos homens (homens a sério) com menos de 40 anos sabem realmente fazer um nó de uma gravata?
Mas não tentem fazer isto em casa
Experimentem explicar a um cidadão estrangeiro (para quem é normal o esquema de, no ensino superior, haver um tutor para acompanhar um grupo de quatro ou cinco alunos e com uma vertente muito prática) que, numa certa universidade portuguesa, o ensino das ciências jurídicas consiste num mestre divinizado no alto da sua cátedra com a missão de dificultar o que é simples e teorizar o que deve ser prático, à melhor maneira do ensino escolástico medievo, onde quase só falta escrever com uma pena e um tinteiro.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Museu da Acrópole
O Museu da Acrópole, na Dionissus Aeropagitou, em Atenas, foi uma (muito agradável) supresa. Nem sequer constava do itinerário principal primeiramente idealizado , mas, por um felicíssimo acaso, veio a ser parte dele.
Absolutamente rendida àquele edifício ultramoderno, cheio de luz, arquitectonicamente pulcro, onde habitam, serenas e majestáticas, cinco das seis Cariátides originais (a sexta irmãzinha está, coitada, desterrada na Inglaterra, e os bifes não a devolvem, nem por nada. Maus! Feios!).
Bem, é, de facto, um elemento a reter na cidade, e que nos devolve um pouco ao século XXI, já que deambular por aquela cidade proporciona uma dupla viagem no tempo:
- ou a realidade de há dois mil anos, quando os Atenienses estavam na vanguarda da cultura ocidental;
- ou uma realidade de anos 80, pré-União Europeia, em que os Atenienses são criaturas algo... controversas... digamos assim, em termos de civismo, profissionalismo, comportamento rodoviário, asseio público, etc., etc. etc... (Mas muito boa gente.)
domingo, 20 de junho de 2010
Pois.
Ainda há pouco tempo escrevi sobre ele. Ou melhor, sobre umdos seus livros.
Admiro-lhe a obra, reconheco o génio literário, li quatro livros e gostei de todos, li-os todos com grande interesse e voracidade.
Não gostava dele como pessoa, da postura arrogante, dura e seca. E este é o melhor post de todos os tempos sobre ele. Linda Menina.
Testosterona de luxo #10
sábado, 19 de junho de 2010
E até tenho vontade de vomitar um bocadinho
sexta-feira, 18 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Podem escolher todas as cores, desde que seja o preto
Pelos vistos, o Henry Ford e a sua célebre máxima para o modelo Ford T ainda estão muito em voga. Há mulheres que parece que desconhecem qualquer outra realidade na vida para além dos vestidos curtos pretos, seja em que ocasião for, seja em que estação do ano for.
Gente, há muito mais cores no mundo. Não é preciso irem todas em série, vindas directamente da linha de montagem.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Toda a verdade (2)
Toda a verdade
Lev Nikoláievich Tolstoi, o jovem aristocrata rural russo e futuro escritor viveu, na sua juventude, experiências de grande devassidão, alistando-se no exército, convivendo com prostitutas e viciando-se no jogo, onde perdia muito dinheiro. Aos trinta e quatro anos, casou-se com uma muito jovem e pura Sofia Andreievna, iniciando assim uma longa vida em comum, que seria marcada por alguns extremos que iam da maior paixão às mais violentas discussões. Tolstoi, o idealista apaixonado e utópico, e Sofia, a mulher prática que o devolvia às questões quotidianas e lhe copiou à mão seis vezes as mil páginas de "Guerra e Paz".
Imediatamente antes de se casarem, Tolstoi entregou-lhe os seus diários de juventude e insistiu para que ela os lesse, num gesto admirável de transparência e honestidade, para que a futura noiva tivesse conhecimento de todo passado do homem com quem iria casar. Foi uma Sofia muito escandalizada que lhe devolveu os diários, depois de lidos. Mas determinada e convicta na decisão de com ele se casar e iniciar um casamento que foi, num balanço geral, muito longo e feliz.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Boys 'R' Us
domingo, 13 de junho de 2010
Clássicos
Ver o Anna Karenina de 1997, depois de o conhecermos na monumental versão escrita de Tolstoi, pode ser uma experiência de profunda desilusão. É certo que não é fácil adaptar uma obra literária esmagadora a duas ou três horas cinematográficas. Mas, se não é fácil, é por isso que não deveriam entregar essa missão a pessoas que não o sabem fazer com grande arte. É uma pena, porque a excelente Sophie Marceau é um desperdício ali e o seu talento e beleza são eclipsados por um argumento absurdamente adaptado e outros desastres que tais. Muito deprimente.
Entretanto, para expurgar-me da decepção Rússia imperial oitocentista, vou ali ver o Apocalipse Now, esse outro grande clássico que nunca vi (mea culpa, mea maxima culpa). E depois de ter visto há dias (e também pela primeira vez, imagine-se!) a trilogia de O Padrinho, a seguir vou ver, se me der na cabeça, o Platoon.
Estou voluntariamente a despojar-me da cinefilia girlish que costumo cultivar. O que é um esforço louvável da minha parte, há que dizê-lo.
sábado, 12 de junho de 2010
Um pouco de Turquia, aqui
Há dias, fui ver isto. Rodopio derviche. Enigmático, místico, de cariz vincadamente espiritual. A mão direita para cima, a esquerda sempre para baixo. Giram, giram, e nunca se desequilibram.
Eu também gostava de ter essa capacidade: apesar dos torvelinhos da vida, não me deixar desequilibrar. Mas eu nunca chegarei ao estado de nirvana destes homens. Demasiado humana e imperfeita para isso.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Anestesia geral
Com o Mundial de Futebol, o Benfica campeão e o Papa pelo meio, temos, no primeiro semestre deste ano, um lindo parêntesis de anestesias para uma boa parte do povo português, daquele que se presta muito a estas coisas. O Sócrates pode subir o IVA à vontade e taxar os subsídios da malta toda, que nem dão pela picada. Então com o Verão, o calor e a praia, ui, aí é que só vão mesmo acordar para a vida em Outubro. E se já temos Fátima e futebol, só falta mesmo o fado, para estar completa a trilogia da alienação, à boa maneira dos tempos do Senhor Professor.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Bolsa de valores
terça-feira, 8 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Sunday morning
Immanuel Kant, escreveu um dia (decerto na sua querida Königsberg natal, o homem parece que nunca saía de lá), qualquer coisa como "Acima de mim, o céu estrelado. Em mim, a lei moral". É bonito. E eu admiro tanto a força estóica da moral kantiana, governada pela sua inexorável lei moral. Admiro. Sobretudo aos domingos de manhã.
domingo, 6 de junho de 2010
Trás-os-Montes
Há em muitas pessoas do interior norte do País uma espécie de pureza primordial que nem sempre é fácil encontrar noutros lados. E é adorável quando essa idiossincrasia se reflecte em certas expressões ou detalhes de atitude social.
Como quando um jovem, para arrefecer os ânimos do grupo de amigos, diz: "Malta, não vos passeis...".
sábado, 5 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
1 para 1 milhão
Habituamo-nos desde cedo à concorrência, ao sete-cães-a-um-osso, ou ao mero acaso entre milhentas possibilidades.
É o jogo das probabilidades, que se estuda em Análise Estatística.
De entre milhões de espermatozóides, apenas um se funde com o óvulo. De entre centenas de candidatos, só um fica com o emprego. De entre milhares de apostadores, apenas a um sai o jackpot. De entre as muitas, muitas, pessoas que se cruzam connosco ao longo da vida, apenas uma nos conquista verdadeiramente.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Eclesiastes 3:1-8
"Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar (...)."
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar (...)."
[Tempo de usar gola alta, e tempo de usar decotes.]
A ronda do dia
A Ronda da Noite, Rembrandt (1606 - 1669)
Meia hora sentada a olhar para isto no Rijksmuseum. É que ocupa uma parede inteira (das grandes).
Pronto, na verdade, precisávamos de nos sentar para descansar, depois da ronda dos museus. E para descansar, nada melhor que sentar e olhar para uma (boa) parede.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Autópsia
Quando uma relação amorosa acaba, por vezes, é melhor não sermos demasiado exaustivos a dissecá-la. Pode-se encontrar novas e surpreendentes causas de morte.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Ascensão & Queda
Ah, sim, o vernáculo pode ser tão catárctico, mesmo que em pensamento. Sobretudo, quando alguém se vai a sentir nas alturas, do alto dos seus pumps azuis vertiginosos, tão alta, tão linda, tão fantástica, e inesperadamente se cede à força da gravidade em frente a uma esplanada cheia.
Quando isto acontece, uma pessoa tenta reunir todos os pedaços da fragmentada dignidade espalhados pelo chão da (malfadada) calçada portuguesa, reequilibrar-se mortificada, erguer a sustentável leveza do seu ser (porque ninguém estende uma mão auxiliadora), e prosseguir altiva, como se tivesse de ir num instante resolver o conflito Israelo-Palestiniano.
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