quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fado VS Música Tradicional Portuguesa



Embirro com o fado de Lisboa. Pronto, crucifiquem-me. Não gosto, e o espectro dos meus adjectivos para o descrever vai de“muito deprimente” até “alegrete, mas ainda assim tristonho”.

Não falo do fado de Coimbra porque esse é todo um universo à parte. E além disso, o fado de Coimbra não comporta a veleidade idiota de o alargarem a todo o país e de o projectarem como «música nacional», a eterna figura musical representativa de «todo o sentir português», blá blá blá.

Não. O «sentir português» não é o fado, e a riqueza do que musicalmente é «típico português» não pode ser reduzida ao fado. Ainda por cima, uma canção que não é o reflexo genuíno do viver e das raízes de um povo, mas que é algo “fabricado” e aperfeiçoado desde o século XIX para turista ver (nisto tenho de concordar com o José HermanoSaraiva).

Por muito honrosas ou culturalmente complexas que sejam as origens dofado, ele reflecte um universo (ainda por cima urbano) de um contexto específico (certos bairros lisboetas), e um universo que não é aquele com que um beirão ou um transmontano se identifica. Não há casas de fado em Cinfães, em Arouca ou em Celorico de Basto.

E esta mania de se impor tudo o que vem de Lisboa ao resto do País também me irrita um bocadinho.

4 comentários:

  1. as casas de fado são foleiras mas o fado vadio de Lisboa é do melhor que a cidade pode - ainda que secretamente - oferecer. pronto: embirras com uma coisa que não existe. ou se calhar embirras com uma coisa com que o José Hermano Saraiva (sorte a dele) também embirra: com o fado para turista ver. que não é propriamente o de lisboa.

    e de resto concordo contigo. embora o fado tenha qualquer coisa desse "sentir português" de que falas...eu cá acho que é a influência moura. gosto disso.

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  2. Embirro em geral com o fado que se colou à imagem de Portugal: sons e letras que transmitem a ideia de um povo triste, apático, saudosista, ideia essa que é exportada para todo o Mundo há décadas, infelizmente.

    E, quando não é o fado, são grupos como os Madredeus, que, independentemente da sua qualidade inquestionável, reforçam essa imagem cultural de fatalismo e melancolia.

    Não é assim que eu vejo Portugal, nem os portugueses. Sobretudo, quando nós temos um património cultural e, em particular, musical, vastíssimo, e que mostra um país com cor, diversidade e energia.

    (Falas da influência moura: sim, definitivamente. Eu adoro.)

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  3. Olha eu a discordar contigo!!! Até que enfim! :))
    Zozô, eu percebo o teu ponto de vista, mas o Fado de Lisboa é fabuloso e depois de lá viveres garanto-te que entra na alma, assim como o de Coimbra me entrou qdo ouvi a minha 1° serenata. Lisboa é fado. Quem como eu vivou na zona antiga, sabe que os sítios onde vão os turistas são uma barraca e tão vazios, completamente, nem sei como é que as casas de aguentam, é mesmo pra turista. E sabe que: existem umas tascas na Graça que são tão pequenas que têm ao todo, no global, na sua totalidade (ok, já chega) 3 mesas de 2 pessoas e um metro de largura entre a mesa e a parede (not kidding) e não é todos os dias, pq depende da vontade do freguês, que um dos senhores se levanta e desata a cantar fado como se não houvesse amanhã, com alma, peito e voz e arre burro, que aquilo é bom!
    O Fado não é a alma de Portugal, mas é a alma efectivamente de mto Lisboeta. Eu que adoro Lx, pensava que a cena da faca e alguidar e da malta que se mata mesmo à facada era treta e filme, mas não é, infelizmente. Ainda este Santo António tava um tipo atrás de mim que tinha 3 dentes e umas trombas aciganadas q resmungava que matava, fazia e acontecia ao tipo não sei das quantas pq + isto e + aquilo e posso-te dizer: os 10 minutos que levei a pôr-me na alheta só duraram o tempo de eu ter a certeza que o tipo não estava a gozar e de o ver desatar a correr em direcção ao outro qual filme! Lindo, a sério!
    Se fores ao Sto António, é só parar a música e o bailarico e catrapumbas: lá tá o fadista sofrido e de faca em punho, a chorar honra e o camandro!
    Esta cena davam um post caramba! :D
    Pra rematar, qdo vi a Marisa cá na Holanda fiquei dividida entre a irritação que a antipatia dela me provocou e admiração por ter efectivamente, e acredita q o povo holandês é uma merda em concerto, não tuge nem muge, é de cortar os pulsinhos, mas ela conseguiu por os tipos a cantar e bater palminhas e EXPLICOU o que era o Fado sem dramatismos e fatalismos e a sala cheia saiu de lá de sorriso alçado.
    Não somos um povo triste, mas somos sim saudosistas. Basta veres que em mais língua nenhuma existe a palavra saudade... nós e os Brasucas, ó amiga, não há melhor pra apelar à saudade, e digo-te mais: eu tenho mtooo orgulho em ser saudosista, qdo é das coisas e das pessoas boas faz-me mto humana!! (nota-se mto q vivo fora? ;) )

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  4. Sim, finalmente discordamos! :)
    Eu percebo, linda. Sinto tudo isso, mas em relação à nossa Coimbra e ao fado dos estudantes, aquele sentimento que tu também compreendes e que só quem estudou na UC sabe (e mesmo assim não é para todos).

    Devemos ter orgulho em tudo o que é bom e é português, e sobretudo quem está fora do país sente isso até mais intensamente.
    (Mas agora que falaste na Mariza, ui! Essa então...) ;)

    Fico à espera do post da faca e alguidar em pleno Santo António ;)

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