quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Deitar fora o bebé com a água do banho



O género telenovela é um produto de entretenimento muito ingrato, porque é menosprezado e subvalorizado. Talvez seja por serem obras de longo fôlego, por durarem muito tempo e desgastarem a imagem dos actores, por os exporem durante meses a fio, talvez pelo seu ritmo frenético e se sujeitarem à tirania das audiências ou simplesmente pela mediocridade de alguns enredos. De qualquer forma, entre os culebrones latino-americamos, as coisas medonhas da TVI e as novelas da Globo, venham estas últimas. São, sem dúvida, as que têm mais qualidade, tanto em termos técnicos como artísticos.

Mas, no meio disto tudo, quando se fala de novelas caímos no erro de deitar fora o bebé com a água do banho (expressão inglesa muito do meu agrado: throw out the baby with the bath water). Ou seja, acabamos por nem dar o devido valor à enorme qualidade de certas interpretações: é o caso da actriz brasileira Cássia Kiss, na novela Paraíso, que passou recentemente. É que ela é de uma fidelidade à figura que pretende caricaturar (a beata do interior do Brasil, de há trinta anos atrás) e absorve de tal forma o seu papel, que chega a ser assustador. Chamo a isto porosidade representativa. O exagero emocional, os gestos, os tiques e as expressões, ora trágicas ora rocambolescas, fazem da personagem "Dona Mariana" uma das melhores coisas que já vi em termos de representação. E isto não é coisa para se ignorar.

2 comentários:

  1. Já vi algumas telenovelas na minha vida. Nem vou explicar porquê. Mas as que vi, umas eram medíocres, outras aceitáveis, mas posso dizer que me lembro de uma com o argumento baseado num livro do JOrge Amado que era mesmo muito boa. Depende da telenovela sempre. O problema das telenovelas é a sua força também. Aquela telenovela do argumento do Jorge Amado, eu podia ver um episódio por semana e sabia sempre onde estava. Não precisas de mais do que ver um por semana e não perder o último episódio. Se ficares um mês sem ver, no episódio a seguir já estás informado novamente. Isto significa que é uma história que dava para contar em duas horas e que é contada em 300 ou mais. O que passa de um produto artístico para um produto só e apenas, uma espécie de um hobbie mais do que uma expressão artistica. Só que claro. Depois há coisas preciosas como algumas representações, que nos ajudam a passar por esse hobbie de uma maneira bem mais prazerosa.

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  2. Certo, Miguel. É sempre um formato repetitivo (e cansativo, muitas vezes).
    Mas há verdadeiras pérolas em termos de actores. Eu acho que muitos só fazem novelas para sobreviverem, porque sempre que podem apostam noutras produções.

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